Resiliência

Publicado  sexta-feira, 6 de maio de 2011

Em "Fundamentos da Ciência e Engenharia dos Materiais" (CALLISTER, 1991) ou simplesmente 'Callister' como é mais vulgarmente conhecido entre os discentes (e docentes) da maioria dos cursos de engenharia Brasil afora, podemos encontrar a seguinte definição para o termo 'Resiliência': "Resiliência é a capacidade de um material absorver energia (impacto) quando ele é deformado elasticamente e então, no descarregamento, ter recuperada esta energia. A propriedade associada é o módulo de resiliência, Ur , que é a energia de deformação por unidade de volume requerida para tensionar o material a partir do estado não-carregado até o ponto de escoamento."
Mas vocês devem estar se perguntando: e daí?
Bem, feliz e animado com a vida (?!) como qualquer aluno do terceiro ano de engenharia, eu assistia despretensiosamente a uma pacata e, arrisco-me a dizer, sonolenta aula de Teoria das Organizações. Slide vai, slide vem; bocejo vai, bocejo vem... 'bla bla bla resiliência bla bla bla'. 'Resiliência? É de comer? Acho que eu já ouvi isso antes... Onde mesmo? Ah, é! Na aula de materiais do terceiro semestre.'
Voltei pra casa depois de um longo, longo, loooongo dia de estudos, morto de cansaço. E como todo mundo já deve ter percebido, geralmente uma parte desse cansaço inerente à vida acadêmica é, obviamente, composto pelo esgotamento e saturação da sua paciência e disposição; e a outra parte é feita do pré-cansaço, ou seja, aquele sofrimentozinho que você sente só de pensar em todo o resto das coisas que você AINDA tem que fazer.
Mas, voltando ao assunto, cheguei em casa e... aquela pulga atrás da orelha. 'Cadê o Callister? Merda, vendi pro bixo. Ok, vai no Google mesmo.' Pesquisei 'Resiliência' no Google e, curiosamente, o primeiro resultado da busca era uma definição da Wikipédia. Abri a página e me surpreendi: descobri que, convenientemente, a psicologia havia tomado emprestado o termo para definir "a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico". Brilhante! Como eu pude ignorar este conceito por tanto tempo? 'Resiliência...' uma avalanche de pensamentos me fez imóvel por alguns instantes (como quando você mergulha em si mesmo, não se mexe e nem se percebe estátua viva, e quando se dá conta, a visão já está embaçada...).
Então concluí que a resiliência é o único atributo importante na vida de qualquer pessoa.
Não importa de que raça você seja, qual o seu emprego, sua idade.
Não importa se você é religioso, se você não gosta de picles, se você é o presidente!
E ainda, não importa que você não se importa, porque isso não fará a resiliência menos importante.
O jeito como você lida com as adversidades; a maneira como você agüenta o tranco e absorve aquilo para depois tentar transformar em algo positivo (ou negativo); isso é o que determina tudo.
Portanto a palavra do dia é: resiliência.

O desencarne

Publicado  domingo, 1 de maio de 2011

"O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, deseja morrer." (Nietzsche)

"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia." (Camus)

Mas por que todos buscam tão desesperadamente justificar sua vida e seus objetivos?
A todo o momento e em qualquer lugar as pessoas, incansáveis, se lançam na jornada incessante cujo único e infrutuoso objetivo é provar sua existência.
A grande parte de tudo o que há para ser visto ou vivido serve exclusivamente para desviar o foco de nossa atenção da questão central e única importante: a morte.
O porquê de todos os porquês; o fim; o assunto incômodo e recorrente de qual todos fogem consciente ou inconscientemente.
Mas como explicar o inexplicável?
Como traduzir em palavras o que só pode ser sentido?
É como começar uma explanação sabendo de antemão ser incompreendido.
As pessoas não temem a morte porque elas não são capazes de pensar seriamente a respeito dela.
Se o fizessem, não conseguiriam seguir normalmente com suas vidas.
Quando um indivíduo considera verdadeiramente a morte e suas implicações, um medo avassalador, por falta de outro termo mais apropriado, toma conta dele.
Não é um medo comum, como o medo de se machucar ou medo de perder algo que se ama.
É um medo absoluto e total, tão profundo que coloca tudo em perspectiva.
Inicialmente, esse medo fornece ao indivíduo um sentido aguçado das coisas, e em seguida proporciona um nível superior e muito elevado de consciência.
Uma espécie de iluminação.
A maioria das pessoas nasce, vive e morre sem nunca ter vivenciado essa clareza profunda de realidade, essa 'lucidez perigosa' nas palavras de Clarice.
É como aquela sensação estranha ao sair do cinema: num momento estamos dentro de uma realidade e de repente, ao abrir das portas, voltamos ao 'normal'.
O problema é que é impossível vivenciar essa lucidez, essa sensação de estar infinitamente maior que si mesmo, e simultaneamente estar preso às tarefas do cotidiano, já que são antagônicos.
As coisas mundanas estão a toda hora nos alienando, cegando nossa visão, puxando-nos para baixo.
É conveniente não pensar sobre isso, e a rotina engole facilmente as reflexões e mascara as conclusões.
A verdade insuportável e inexorável é que nada existe realmente porque tudo algum dia deixará de existir.
E deixar de existir, à parte a religião e as crenças, é aterrorizante, como poucas ou nenhuma outra coisa é.
Sumir, desaparecer.
Você se lembra como tudo era antes de você nascer?
Pois as coisas voltarão a ser daquela maneira.
Reordene por importância os elementos da sua vida agora.
Percebe a insignificância?
Não é frustrante? Não é triste? Não é desesperador?
Essa noção de certa forma consagra os suicidas como corajosos, porque ao invés de continuarem protelando a mentira do efêmero, eles adiantam o inevitável: vão à busca da verdade até as últimas conseqüências.
Vamos, apegue-se a algo. Maomé, Osho, Cristo, escolha um.
Vamos, feche os olhos, vai passar.
Do pó ao pó: nunca fez nem fará tanto sentido como agora.

Saudade de casa

Publicado  quarta-feira, 20 de abril de 2011

tô com saudade danada de casa viu!

Eu tô me controlando à vera pra não te esquecer, porque na coleção de tempos bons que eu guardei pra mim, a cada dia eu te mato um pouco mais em mim. Por mais voraz que eu procurei nos tempos do mundo, eu aprendi com tudo, na voz do coração, nos segredos das setas e contramão. Me deixa passar pra colorir o que há de mais bonito em mim, me deixa brincar com a solidão, espalhar meus sorrisos por aí...
Passa nos ponteiros, devagar, a lógica no globo azul e a certeza que eu amei demais. Se eu me confundi nos sonhos, nos livros que eu li, na fé disparada de quando eu fui dois ou nada, sozinho eu sempre fui o rei de mim.

Diário da anorexia intelectual, cap. 2

Publicado  quinta-feira, 14 de abril de 2011

Entrou em casa como se adentrasse o velório dos próprios ideais.
O egoísmo; a cólera; a ganância; a crueldade.
A morte.
Os males inapeláveis do homem.
E os seus também, sem sombra de dúvida.
Não queria mais pensar naquilo; queria paz, queria resignação, pour enfanter de belles pensées.
Queria hedonismo, queria alienação optada.
Era terrível não conseguir enxergar claro através do inferno dos próprios pensamentos.
Não sabia até que ponto o efeito Pigmalião havia transformado sua percepção, mas, irresoluto, decidiu deixar aquilo de lado.
"É inconcebível..." - murmurou desfalecido.
Não entendia como a incongruência da vida podia desapontá-lo tão mais que as outras pessoas.
Como viver subjugado ao horror da realidade?
Era impraticável atravessar os dias daquela maneira.
Estudava, conversava e até ria, mas ao cair da noite, as mesmas idéias o assombravam.
Deitava-se, tentava dormir, tentava esquecer.
Tudo em vão.
E não importava o quão grande fosse seu amor ou o quão grande fosse sua dor, nenhum abriria caminho na desesperança da noite.
"A iniqüidade não têm remédio... eu não tenho remédio" - pensava.
Seus devaneios eram tão profundos que ele chegava a se comparar a Fausto.
Mas então amanhecia, e a rotina engolia as queixas, o medo, a dúvida... a lucidez.
E pouco a pouco, imperceptivelmente, o sofrimento começava a dar-lhe personalidade.
E, ainda que contra sua vontade, sem mágoa nem saudade, enfim, o tempo passou...
Porque o dia em que ele deixou morrer em si a perplexidade foi o mesmo em que ele se compadeceu dos homens, e afinal descobriu que a bondade não é uma virtude passiva.

Você

Publicado  sexta-feira, 8 de abril de 2011

Você foi indo embora os poucos da minha vida, e eu preciso agora de um consolo imediato. Eu não sei se sinto a sua falta porque eu não sei mais o que sinto, ficou um buraco. Você tirou de mim tudo o que era nosso e tirou de mim tudo o que era meu, você me tirou do eixo, me tirou do meu fuso, da minha rota. Me tirou de onde eu estava, me tirou de tudo quanto foi lugar que você achou que eu não cabia e eu só fui indo, indo, indo, sendo tirada de cá pra lá, a todo momento, vagando pela vida sem precisar.

Você foi meu por tanto tempo que me dá medo de deixar doer tudo o que eu acho que ainda tem pra secar. E você foi meu por tanto tempo que às vezes parece que tudo foi gasto entre a gente, até a dor e, mesmo quando eu forço ficar triste por obrigação de sentir a sua falta, ela não vem.

Você me conheceu menina, e me viu virar mulher. Você leu todos os meus textos falando de outras pessoas, você esteve presente em todos os momentos da minha vida em que eu achei que só a sua aprovação era importante. Você enxergou em mim a minha tristeza despedaçada e me falou tantas vezes que você era a cola que ia manter meu castelo de sonhos montado. Mas depois, você montou em cima dos meus sonhos, bloqueando qualquer visão que eu pudesse ter pra eles, me fazendo achar que além do horizonte do seu sorriso não se achava mais nada.

Você viu em mim qualidades que ninguém até então tinha tido sensibilidade de encontrar, você conheceu meus olhos de bom dia e de boa noite, meus olhos de felicidade, de saudade e de tristeza, você conheceu minha boca que se comprime quando a vida discorda comigo e eu não acho outra saída a não ser amarrar o choro no bico. Você me deixou te ver por debaixo da armadura que todo mundo conhece, você deitou tanto comigo em tantos lugares que aquela sua perna pesada que bloqueava a minha circulação toda santa noite virou minha perna também e, depois de um tempo, nem meu sangue ligava mais de ter o seu destino bloqueado por você.

Você me amou tanto que, mesmo sem poder me amar direito, não queria me deixar ir e foi matando nosso amor aos poucos, usando contra mim todas as coisas que um dia foram tudo o que eu ofereci de encantador a você. Você puxou todos os meus limites e me fez descobrir partes de mim que eu não sabia que existiam, você trouxe o melhor e o pior, trouxe aquela sensação de frio na barriga eterno, de ansiedade constante, de não saber se vai ser possível respirar até o pulmão encher porque, antes mesmo do final do respiro já se sente falta de ar.

Você foi meu de verdade, foi meu com tudo, foi meu de noite até de dia por todos os dias de todos esses anos que eu vivi você mais do que vivi comigo. Por todos os dias que eu acordei de manhã e precisava saber do quê você precisava, antes de eu me lembrar que eu também era uma pessoa e também precisava de tantas coisas.

E eu fui embora porque por mais que eu tentasse, por mais que eu chorasse, rezasse, desejasse, implorasse, suplicasse, abaixasse, ajoelhasse, gritasse, sussurrasse e pensasse, eu percebi que a minha necessidade de você nunca seria suprida já que, de alguma maneira que até agora eu não sei, você me roubou de mim e a minha busca era sem fim porque não era certeira.

E pela primeira vez em muitos anos eu entendi que eu estava precisando de mim, não de você.

E mesmo enquanto eu me ajoelho e reúno do chão os pedaços de mim, não posso negar que muitos deles são completamente seus. A gente se bagunçou tanto que só a música do Chico consegue explicar a minha sensação de ter o seu paletó enlaçado no meu vestido aonde quer que eu vá. Você vai pra sempre fazer parte do que está em mim e, mesmo com olhos céticos, tudo o que a gente teve de tão bonito nunca vai mudar.

‘Só amor não adianta’, a gente repetiu tantas vezes. E eu precisei não poder mais enxergar você na minha vida que era pra ver se, assim, eu conseguia começar qualquer frase, qualquer conversa, qualquer pensamento e qualquer texto com alguma outra palavra que não ‘você’.

E o meu discurso antigo (que é seu) diria com a sua voz (da qual conheço todos os tons) que pra mim o nosso amor não passou de um monte de experiências exageradas pra virar, no final, um texto bonito.

Eu, entretanto, discordo. Pra mim o nosso amor foi verdadeiro e é uma pena que ele termine assim, reunido num monte de palavras tristes no chão, sem cola.

O meu castelo desabou e eu preferi reconstruir meu mundo sem você. Por escolha, não por falta de amor.

Correr devagar para correr sempre

Publicado  domingo, 27 de março de 2011

"...Abrace a vida e viva com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante."
[para um texto piegas, uma boa frase de efeito. Do nada piegas, Charlie Chaplin.]


.::. A vida deu uma bagunçada e uma arrumada, quase que instantânea, que foi só pra me dar um sacode e eu enxergar que do jeito que estava não podia continuar. Que era pra eu entender que nem todos os meus por causa iriam ter algum porque, mas que todos os meus poréns não eram e nem nunca tinham sido em vão. Não era em vão pensar demais, mesmo quando só se pensa bobeira. Nenhuma cabeça morreu de pensar, não ia ser a minha.

Engraçado encontrar elementos do passado no presente e sentir que eles simplesmente já não fazem mais parte do cenário. Uma cadeira, um abajur, uma mesa, um ex namorado. Não combina.

Me olho meio mutante no meio dos acontecimentos que não param nunca. Um dia sou o caos que não consegue lidar nem mesmo com a lentidão do que não acontece porque nunca vai acontecer, de qualquer forma. No outro sou ansiedade borbulhando pra fora dos poros, pra fora da boca, pra fora de casa. Ficar em casa começa a irritar e eu quero mais é ver gente, mesmo que há poucos dias atrás eu estivesse sofrendo a síndrome da lagarta no casulo. Metáfora babaca de menina de 15 anos em seu aniversário de debutante, eu sei, mas quem sabe hoje, pelo menos, eu não consiga virar borboleta.

Eu não andava precisando da frescura, mas sim do frescor adolescente.

Acontece que a vida vai rápido por mais que, em alguns dias da minha, eu tenha a necessidade de ir mais devagar. Aí quando me dou conta, já saí correndo meio que sem rumo, porque pra mim nunca foi admissível ficar para trás. Aí uma amiga me diz que, pra eu entender da onde vem o drama todo, eu tenho que me colocar na terceira pessoa e contar pra mim mesma o que a burra da minha amiga superegodescontrolada fez. Amigas e mães muitas vezes têm toda razão mesmo quando não são chamadas.

Então tá bom, e eu conto detalhadamente mesmo que o interlocutor não tenha exatamente meus olhos, tampouco minha idade e, menos ainda, minha formação acadêmica. Estranho sim pagar para receber conselhos, mas eu prefiro acreditar, então, que não passa de um maduro outro ponto de vista. Tem sido bom, faz olhar pra trás, mas andar pra frente.

Bom ver que ninguém passou por mim por acaso e que nenhuma das minhas experiências gritadas religiosamente em sua ordem cronológica por meio do que eu escrevo ficaram mofadas em mim sem ter deixado nada delas em que eu possa me espelhar lá na frente. A real é que desde sempre foi complicado entender o que eu sinto, mas eu sempre tentei desenhar em palavras para, quem sabe alguém mais ou menos desocupado do que eu, pudesse entender por mim. Não deu.

Se todos eles tiveram que chegar e, sem nenhuma exceção, tiveram que partir, onde está escondido o grande problema que não deixa e estada ser maior? Pode ser a incompatibilidade - e eu adoro pôr a culpa nela -, pode ser a maneira como as coisas são demonstradas, ou até mesmo a forma de oferecer estadia, mas pode não ser nada disso porque, se fosse tão óbvio assim, eu já teria descoberto.

Vou assim então, devagar e sempre, mesmo que a parte do devagar pareça piada para uma pessoa como eu, que sempre extravasou tanto.

Todo amor que houver nessa vida

Publicado  segunda-feira, 21 de março de 2011

E, na verdade, ela só queria saber quando foi que tudo virou isso, desse jeito confuso e pesado que é agora, que dói de respirar, de comer, de pensar. Acordar com vontade de voltar a dormir porque encarar a vida se tornou uma tortura que se repete. Os dias se repetem esfregando na cara tudo o que ela tem de bom na vida, mas não dá valor.

E vai ver que aquela outra, que olha tudo com olhos grandes, esteja certa. Vai ver que a vida desta seja mesmo tão sem graça que é melhor querer a da outra. Vai ver que a explicação que ela vai dar é que, melhor do que sofrer sem amor, é sofrer por causa dele. Porque enquanto pra uma é tanto vazio, pra outra é tudo o que se tem de máximo, misturado. Sabe a sensação de gostar tanto, de querer tanto, de precisar tanto que chega a sufocar? Sabe ir dormir à noite com medo do que vai sonhar e acordar de manhã tateando o nada, até encontrar o que quer e ter certeza de que ele ainda esta lá?

Ela sentia. Sentia até cortar as linhas da sua racionalidade. Ela sabia até sangrar sem ninguém ver, justamente pra doer sem sentido nos olhares do mundo.

Pra querm sempre amou de pouquinhos, porque nunca iria se entregar inteira, amar de verdade machuca porque exige demais. Exige mais paciência do que ela parece ter, mais companheirismo do que consegue dar, mais amor próprio porque quando ela ama, ela ama muito e é fiél demais. Não dá pra amar igual duas pessoas ao mesmo tempo.

É como se tudo o que ela sempre disse estivesse se voltando contra ela mesma, por vingança ou qualquer coisa, por vontade de fazer não ser tão fácil agora que é alguma coisa de verdade. Como uma punição por ela ter sempre sido tão dramática com coisas pequenas, com as bobeiras e as pessoas de meias horas. Vai ver sofrer assim agora era uma maneira de sempre lembrar de quando ela sofria de mentira, pra mostrar qualquer coisa pro mundo que ela tinha certeza que a enxergava, pra provar qualquer coisa pra alguém que, até hoje, ela nao conseguiu descobrir quem é.

Só que está ficando feio. E a sujeira vai transbordando dela em direçào à ele. O amor que ele sente por ela se quebrando em pedaços pequenos porque o que existe dentro dela é tão forte que parece que não vai embora jamais. Ele abraçava seus braços, tapava seus ouvidos, segurava sua cabeça pra cima, mantinha-a erguida porque o discernimento dela estava caído, de novo, naquele chão e, se ela olhasse pra baixo, só iria escorrer mais. Ele segurava de todos os lados, de todos os jeitos, com todas as forças, mas não adiantava e, talvez, ele tivesse mesmo já descoberto que proteger alguém de si mesmo é – se não a mais – uma das tarefas mais difíceis desse mundo.

E não adianta ele querer muito e ela jurar que consegue se, no fundo, ela não está tentando como devia e ele não está acreditando com todo o coração. O coração dele também morreu, e ela sabe que a culpa é dela.

Então a história vai seguir assim, ele do seu lado e o mundo contra ela porque, repare, ela mesma não conseguiu ainda se encontrar e embora sua companhia esteja cheia a sua alma está vazia.

Minha certeza não é certa

Publicado  sábado, 5 de março de 2011

"...Pois tudo o que se sabe do amor/ É que ele gosta muito de mudar/ E pode aparecer onde ninguém ousaria supor..."
[adriana calcanhoto, na voz de marisa. é de apertar o repeat. incrível.]


.::. Na minha frente havia dois caminhos. E eram, os dois, floridos.

A vida inteira não me faltou despudor e desprendimento de abandonar a metade do que quer que fosse, para me completar do que quer que me enchesse mais por aí a fora. Não me faltou coragem de tentar de novo, mesmo quando ardia por dentro e aquilo que batia sozinho, no escuro, pedia pra eu parar, por favor.

Fantasiada de carência, a minha liberdade passeava folgada por toda parte.

Ouvindo Marisa Monte em notas doídas e compassadas. Comparadas a Chico Buarque, tristemente profundo, desafinado e verdadeiro. Se Chico fosse afinado, seu samba seria a perfeição, e há de se convir que muita gente já derrama litros de emoções com a imperfeição, imagine então, com o contrário. Chico emociona porque tem a verdade errada das coisas; Marisa dói, porque é bonito e, beleza demais, machuca.

Procurando bem, todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem.

E tanto tempo passou desde quando era fácil depositar as culpas e os fracassos na vontade de ter afago de quem quer que fosse. Afago pra chamar de seu. Faz tempo que a minha vontade de cafuné virou vontade de quebra cabeça, sem frestas, sem furos, nem espaços por onde pudesse fugir a minha metade torta.

Enquanto o tempo passava, a minha certeza de uma só metade ficou perdida no meu quebra-cabeça completo de peças sem encaixe.

Mas eles são dois. Dois, e apenas dois, de tantos que falam comigo todos os dias, dentro do meu cérebro apressado nas ruas de São Paulo. São eles que andam comigo nas ruas arborizadas dos Jardins e pelo fedor calorento da yakisoba da Avenida Paulista. Andam comigo - e em mim - aonde quer que eu vá, de lá pra cá. Andam de fora pra dentro de mim, e saem de mim ainda mais fortes gritando paródias pelo mundo.

O poeta é um fingidor.

E da hora que eu acordo, até o último frame de segundo em que meus olhos se mantém abertos, o radar sensível que - por alguma razão - se instalou dentro de mim, capta as nuances e armazena. Sou um arquivo ambulante de coisas pela metade, mas a verdade é que, mesmo em pedaços, a minha mágoa é inteira porque, quando o mundo inteiro grita as desilusões de todas as pessoas no seu ouvido, acaba-se sofrendo um pouco por cada uma delas, também.

Sofrer vocês é sofrer a minha eterna dúvida de não saber o que é melhor pra mim.

Começo coisas e paro pela metade não porque eu não queira ver o final feliz se estampar no meu rosto desacreditado. Interrompo o gozo no meio porque, pra mim, a aflição dos novos começos atropela a calmaria do que já é meu.

Não é que eu não ame você, é só que eu não tenho certeza.
Os Strokes têm razão.

Mas a minha racionalidade se perdeu justamente onde eu a encontrei. Naturalidade demais me rendeu infelicidade, mas quando resolvi ser simetricamente certeira, perdi a emoção.

Finjo, então, ser dor. Aquela que sinto de verdade.
E vou.

No estreito do meio das decisões, esperando não haver escapatória, ignorando a visão das laterais, curvada, escondida, cardiacamente apressada por um final que, nem eu mesma, poderia palpitar.

Na minha frente há dois caminhos. E são, os dois, floridos.
Eu continuo sem buquê.


Por um final menos medíocre

Publicado  segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Algumas vezes era muito fácil diferenciar quem ia sair ferrado de uma história logo de cara, a partir do primeiro segundo depois que ela tinha começado. Mas o "algumas vezes" está aí justamente para delimitar a constatação de que não, nem sempre existem mocinhos, bandidos e princesas presas no topo do castelo. O sonho de Rapunzel passou por todas as meninas que eu conheci nessa vida, mas ainda está pra nascer a bem amada que recebeu o homem perfeito à Mr. Big do Sex and the City na sua varanda em qualquer manhã dessas.
E era no passado porque a visão turva resultante de tantos olhares míopes numa multidão de desinteressados desinteressantes já não conseguia ver brilho em muita coisa simples que esbarrava aqui e ali. E ela era sempre ela no meio deles, mas eles nunca eram os mesmos diante dela. As histórias se repetiam e o amargo do erro fazia a euforia do acerto padecer mais cedo. O mito do cafajeste não sai da cabeça dela. E pra ela nunca está bom do jeito que está.
Acabava se cobrando demais por não saber ao certo o que ela tinha que arrancar das pessoas, no meio da catástrofe dentro dela. Não era coração - porque esse ela já não entendia muito bem do que se tratava - , era cérebro. Se sentia burra a cada novo começo que se tornava mais um fim no final das coisas. O final das coisas amedrontava, mas já não era como antes. Nada era como antes e ele ainda enaltecia, de certa forma, a eterna posição de desespero, que ela queria manter, para assustar quem ousasse se aproximar demais da crosta fria ao redor dela.
Não que ela quisesse magoar demais para sofrer de menos, não que fosse mais prático gritar a todos os pulmões que não quer mais depois que já teve, não que para ela fossem flores, ou folhas, ou bonito dizer o que não se quer ouvir, o que não se quer dizer, o que ninguém nunca quer falar e nem saber. Ela está feia por tentar tanto e não perceber que o que falta é ter força suficiente para ir até o fim de verdade e viver, indescritivelmente, as coisas que ela cria na cabeça e saem todas pela metade, pela pressa de ser tantas, em uma só.
Um dia, em algum dos passados que já foram contados aqui, ali e acolá, ela resolveu que seria uma mulher descritiva. Contou cada peculiaridade das coisas estranhas que sentia, que fazia sentir. Ela chorou as mágoas em público e abriu caminho para muitas outras delas entrarem, numa metástase confusa de quem sofre por opção de não ter a opção de ver o espetáculo parar.
Alguns se vão por vontade própria. Outros, são convidados a se retirar. E ela passa a vida descrevendo as coisas que tantos sentem através dela, se tornando ela mesma, a mais frígida das mulheres perante seus próprios sentimentos.

Prelúdio à dissidência

Publicado  sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

E mesmo depois de tanto tempo, tocar naquele buraco escuro e cheio de sofrimento era muito difícil.
Há muito ele havia encontrado seu próprio jeito de fechar os olhos e engolir todos os pesares.
Um processo de despejar as decepções em algum ponto abissal da alma que inexoravelmente havia tornado seu coração sáxeo.
Aquilo de certa forma o satisfazia: preencher o vazio, ainda que com mágoas.
A disparidade entre seus imperativos categóricos e a pungente realidade não lhe deixava escolha.
Ele nunca quis ser triste.
E para os dotados daquele velho chauvinismo ignorante que argumenta paralógica e etnocentricamente que os tristes são somente os fracos de opinião, com problemas de auto-afirmação ou pessimistas sem auto-estima... que fossem para o inferno!
As pessoas não escolhem voluntariamente a tristeza.
Mas ela toma conta, domina, introjeta, assimila, seduz.
Sim, seduz.
Existe uma beleza oculta na tristeza.
E embora haja íntima ligação dela com a solidão, aqueles que são tristes, por mais que não saibam ou não sintam, nunca estão sozinhos.
A tristeza é uma língua universal.
Sem distinções.
É claro, ele ainda não entendia.
Então, como nunca havia acontecido nem nunca tornaria a acontecer, ela surgiu.
Sublime, inteira, irretocável.
Com um sorriso radiante, iluminava não só os lugares mas também as pessoas de uma maneira suave e inebriante.
Apesar de bonita, não era vaidosa, nem arrogante.
Ele irremediavelmente se apaixonou.
Contudo, o amor é um privilégio de maduros, e aquele desejo inconfesso de tê-la ao seu lado trouxe consigo um exame de consciência.
Ele percebeu logo que, mergulhado em sua dor atroz, ela nunca seria capaz de amá-lo.
Ela nunca poderia sentir por ele nada mais do que pena.
E foi assim que começou a história da batalha contra seu maior inimigo: ele mesmo.









p.s.: Marília, eeeuu jáááá saaabiiiiaaaa haha! PARABÉÉÉÉÉÉNS :D

Liberdade é pouco...

Publicado  quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

...o que eu desejo ainda não tem nome.
(Clarice Lispector)


Sabe-se lá para onde estou indo, inserto esse destino que modificou tudo que estava planejado...Era certo o caminho traçado, era livre e calmo.
E de repente ele entra em ação e muda tudo a sua volta, modifica suas emoções, ensina muito e prova a cada dia que ninguém é feliz sozinho.
Abençoados os que aceitam o destino, sorte daqueles que entendem pra onde estão indo.
Eu sigo em frente, e sabe-se lá onde vou chegar. Só sei que vou estar de coração aberto pra tudo que é novo, não importa pra onde vou, se existir amor pra me acompanhar, não importa se é longe ou perto se existir mudança para se conhecer, não importa se vou de barco, de carro de avião, a passos leves se minha emoção me acompanha.
Não importa quando vou chegar, se estiver pronta pra seguir em frente!

Feliz 2011 e que esse seja o ano de sua vida!!!

Inerte

Publicado  quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Estou cansada. Essa tal inércia que ronda minha vida me deixa desassossegada. Fico procurando alguma coisa mas não consigo chegar lá. Me sinto presa nesse presente que é nada, procurando meu futuro sem conseguir sair do lugar. Todos os dias tem sido iguais: o mesmo lugar, a mesma notícia, a mesma pessoa, a mesma sensação, o mesmo barulho. Parece que o tempo parou, mas - Ei, como o tempo pode ter parado se as horas continuam passando ?
Acho que me deparei com aquele tipo de situação que a gente só pode resolver com nós mesmos, e de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito ser o melhor, do jeito talvez torto que sei fazer : ter toda a paciência do mundo e saber esperar, sem desistir, sem desacreditar de nada.
Não sei onde me levará esta minha liberdade. Não é arbitrária, mas estou solta. Olhando pra dentro do meu coração intranqüilo eu percebo que às vezes o silencio é uma forma de resposta. Pode ser um aviso pra eu ter calma, aproveitar essa deixa, enquanto a hora certa das coisas acontecerem ainda não chegou [...]

Vencedor

Publicado  quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Venho por meio dessa lhe informar do prêmio. Será entregue em sua residência. Em plástico bolha, fita crepe, caixa de papelão, papel dourado espelhado.
Pode colocar na mesinha preta, ao lado daquele troço legal que sua mãe te deu. Uma peça de design chique e um coração ensanguentado.
Vão te perguntar de onde vem aquele coração e você vai ter mais uma história pra contar baixinho, no ouvido das garotas: essa é boa, quer ouvir? Eu no meio de suas carrancas, cabeças de faraós, estrelas e leões. O vencedor.
Pode voltar a respirar, pode fechar a janelinha emperrada da cozinha. Caso fique pesado para a sua decoração, me deixe com os bonequinhos do banheiro.
Não serviu a saudade que eu sentia só porque você espremia saquinho por saquinho do shoyo longe de mim. Nem era longe, era logo ali, mas eu sentia saudade. Você queria uma prova, você queria a cabeça pra levar pro rei do seu peito. Você queria decapitar a mente que poderia te magoar.
Eu jurei, um dia, vendo você dormir e gostando tanto de você pra pouco tempo, que não teria medo e seria doce e não escreveria uma linha e você seria o escolhido pra não ser mais um escolhido.
Mas você levou meu coração, então só me resta a maldade, a bondade contrariada, que sempre me faz recorrer ao lugar comum de escrever um texto. O lugar onde tanta gente já esteve, o que é uma mentira só pra te ferir. O amor não é um jogo mas você ganhou.
Daqui a pouco você vai se perguntar o que faz exatamente com isso, se não era melhor ter me deixado com o coração, assim eu poderia continuar gostando de você. Eu gostar de você só é um mérito se eu puder ir junto.
Talvez você me mande de volta o prêmio, a caixa rasgada, o papel dourado amassado, o laço frouxo, o coração assustado. E me peça que continue apenas sentindo saudade de quando você demora com os saquinhos de shoyo.
Pra gente voltar de onde se tem coragem. De onde a pressa é angustia solitária e não um caminhão de lixo que se joga no outro. De onde a insegurança é um gatinho preso numa jaula alta e não um tigre alimentado pelo ego. O amor recém-nascido e alimentado com água pura. Eu estava nele quando você achou que diminuindo seu ritmo você aumentaria suas chances.
O triste, e por isso eu te ligo e reclamo que é solitário, é que enquanto você pensa em chances, ritmos e ganhos, eu só penso em você.

Certo?

Publicado  domingo, 21 de novembro de 2010

Ouvi dizer hoje à tarde que quando você é completamente dono da sua personalidade, ninguém jamais será capaz de usar ela contra você. Fiquei pensando que fazia sentido e que são justamente as pessoas que têm a capacidade de moldar mais e mais perfeitamente quem elas são, que conseguem no final, viver a vida sem passar pelo problema mais difícil – muito mais difícil do que ser julgado ou atacado por alguém – quem tem o dom, o tom e o movimento certeiro de se descobrir, se aceitar, se entender, se respeitar e se amar acima de tudo e de todas as coisas, jamais terá que ser questionado por si mesmo. Porque quando eu sou quem eu sou, e eu sei do que eu sou feito, ninguém tem o poder de me domar, me dominar; a minha guia vai ser a que eu quiser, ao vento que eu escolher.
Certo? Certo.
Mas aí continuei ouvindo. Ouvi outras conversas, percebi quantas verdades cabem dentro de uma mesma história. Se sou eu quem escuta, sou eu quem crio em cima do que já foi criado. E se pontos de vista existem, a minha personalidade não depende da de ninguém, mas cada pessoa vai continuar pensando o que quiser de mim. E pouco importa no fundo porque quem continua vivendo na minha pele sou eu, gostem os outros ou não.
Certo? Certo.
Mais adiante na conversa, ouvi que fulano não entendia como ciclano tinha o poder de odiar e amar sua mulher, tudo junto, de uma vez, tão sem fim na decisão se ela era ou não a pessoa que ele deveria permanecer junto, pra sempre. Fiquei ali pensando… “pra sempre é tanto tempo”. Nosso medo tão inseguro de não conseguirmos mais caminhar em dois pés porque num determinado momento nos acostumamos a andar em pares, dormir em pares, comer em pares. Nossos pés continuam sendo só dois, mas a gente se acostuma a andar feito cachorro, de quatro, seguindo o ritmo do dono, muitas vezes sufocados pela coleira sem saber se a sensação é de segurança ou de pavor.
Mas viver junto é o certo, certo? Certo.
Porque amor é tudo o que todo mundo procura. Amor tem a função impossível de preencher os buracos que já nasceram vazios, amor tem a obrigação de curar traumas de infância, de ser mais importante do que as realizações pessoais, do que o nosso egoísmo que poderia nos alavancar pra frente, amor tem o desejo quase burro, quase louco de tapar com outras as nossas saídas respiratórias, porque amor enche tudo, amor cobre tudo, amor não te deixa respirar, nem andar em dois pés, nem ver a vida com os dois olhos que nasceram no seu rosto, num único par.
E eu vejo naquela minha amiga casada há 15 anos e eu vejo na outra que procura alguém há outros 15. As pessoas vivem a vida toda nessa busca que não tem fim porque não tem começo, parece que nasce dentro da gente. Eu vejo em mim, vejo no namorado das outras e vejo nas outras que possivelmente gostariam de ter ou ser o meu namorado.
A busca do outro, a busca do perfeito, a busca da metade, a busca do recíproco simétrico não é mais do que a busca do si, do que falta em você para que você seja completo. Mas ninguém nunca é completo já que somos movidos a ar e de tanto tentar encaixar amor nos buracos, acabamos parados.
E não sou eu que vou levantar a bandeira contra o amor. Justo eu que só sei falar disso, que vivo pra isso e disso, justo eu que atravessei o mundo mais do que uma vez, que aceitei não viver a minha vida do jeito que eu achava ser o melhor pra mim, justo eu que personifico aquilo que projeto simplesmente pra acariciar meu desejo de ser o amor, em pessoa.
Não vou maltratar o amor, porque o amor move tudo, o amor resolve tudo, o amor luta as lutas que eu não tenho coragem de lutar, o amor faz retratos tão bonitos e escreve poesias incríveis, o amor me dá material há anos para falar só dele, em tantas frases diferentes, sempre ele, como um mantra, e mesmo só me repetindo há anos, o amor faz parecer tudo novo, porque todo mundo continua na busca, no desespero, na corrida, na largada, no final do túnel, na outra metade da laranja, segurando a tampa de uma panela, do outro lado do telefone, o amor continua, o amor corre, corre, corre, o amor nunca chega, mas ele também nunca vai embora porque ele é onipresente e todo mundo deseja, almeja, reza tanto o amor o tempo todo. O amor é o Deus sem igreja, o amor tem diversos demônios em si, ciúme, traição, amor doença, amor dor.
Ruim ou bom, longo ou curto, todo mundo precisa ou pensa que precisa de amor. E como o instinto é mais rápido que a razão, eu vou continuar entupindo minhas vias respiratórias de tudo o que tenha aquele cheiro, aquele gosto, aquela textura dele, do meu amor.
Palavras são só palavras e a gente sabe que o amor existe, certo? Certo.

Mas não tem cura.

A loucura de ser duas

Publicado  sábado, 30 de outubro de 2010

Eu tenho duas em mim. Uma é louca, gosta de ser livre, sonha com o mundo e planeja viagens malucas, explora a vida, pesquisa os sonhos. Ela se embriaga de gente e seduz a vida. Ela desenha novos caminhos e quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Essa não se apega, não se apaixona, apenas se ama. Ela permite-se apenas viver o hoje, esqueceu do ontem e não pensa no amanhã.

Ela não tem casa, não tem cerca, não tem pai nem mãe, deixou a família com um até logo, e um beijo na testa e disse “um dia estaremos juntos”.

Essa chora, dá risada, enlouquece, extrapola, não te limites. Mas ela não manda, nem na própria vida.

Quem manda é a outra, que controla, que ama, que planeja, que aguarda, que cuida.

A outra que deseja o lugar certo na hora exata. Que escolhe a cor da casa, que planeja o jantar e tem porta retrato espalhado pela casa.

A que manda anda pelo caminho certo, aquele feito com pedrinhas da musica que diz que no final da rua tem um bosque.

Essa chora as vezes, mas sente mais. Sorri sempre, leve semelhança com a outra. Ela ama demais e as vezes esquece de dizer, tem planos com o homem que escolheu e esquece de contar.

A diferença entre as duas é que uma pensa de menos e a outra pensa demais.

É a briga interna que me deixa maluca as vezes, a que quer correr o mundo fica estragando os planos da que quer apenas a segurança do amor que tem...

Elas se confundem e se estranham, mas a sensatez daquela que cuida e ama sempre vence.

Mas tem dias, tem dias que a outra entra em cena e eu fico a mercê do que ela deseja, morrendo de vontade de correr pro abraço e cair no mundo, mas daí eu lembro que dentro ainda tem um coração que não tem coragem e nem vontade de deixar tanto para trás.

Daí a vontade passa e eu continuo olhando o mundo pela janela...

Não quero

Publicado  domingo, 24 de outubro de 2010

Vou ser breve.

Breve porque quero, breve porque preciso, breve porque não me agüento mais chorando pelos cantos, porque não agüento mais sempre ser apontada como a sofredora, a guerreira, a sobrevivente. Afinal de contas, qual foi a guerra que eu entrei que eu não me lembro? Não me deram uniformes e nem fardas, não me ensinaram a atirar e a me esconder de granadas.
Não quero mais guerra, quero paz.
Quero acordar de manhã, ir pra praia e sentar na areia sem pensar em quem vou encontrar, no que vou dizer, em quem vai ser meu amigo naquele dia. Não quero mais saber de números, de pessoas repetidas, de forçar melhores amizades só pra não me sentir imensuravelmente sozinha. No fundo, afinal, todos somos sozinhos. Ninguém nunca vai me entender por completo porque só quem tem a capacidade de me completar sou eu, não quero mais buscar complemento em nada.
Não quero que minhas palavras sejam mais fortes do que eu, que meus pensamentos me deixem o dia todo presa em um canto da casa só, maquinando na minha cabeça como a minha vida poderia ser boa se eu me deixasse viver. Não quero chegar aos trinta como cheguei aos vinte, pensando que não alcancei nada do que disse que queria, do que achava que queria, do que me faria ser aquela pessoa que meus pensamentos em círculos sempre me disseram que eu deveria ser pra que eu, finalmente então, pudesse ser livre. E feliz.
Não quero mais usar minha licença poética só pra falar de sentimentos quebrados, minha habilidade de enfileirar as palavras só pra falar do que nem eu mesma agüento mais ouvir porque parece um cd riscado que há quase tres anos toca a mesma música do nascer ao pôr do sol.
Não quero mais que a minha peculiaridade, a minha fragilidade e, principalmente a minha prolixidade me façam ser aquela que todo mundo vê atrás de respostas, mesmo sabendo que não muito mais fundo do que a superfície, eu não tenho nenhuma. Não quero ser exemplo, não quero ser o que ninguém quer ser, não quero ter obrigação de ser o que eu não sou ou de achar que tenho que ser alguma coisa.
Quero ser nada, pra poder ser tudo o que me der vontade.
Não quero mais trilhas sonoras pré estabelecidas e conversas repetidas. Não quero mais meus moralismos, meus sexismos, minhas confusões de onde é que eu sento, de qual vai ser a minha opinião quando eu vê-lo mudo todo o dia. Não quero mais estar na festa e passar a festa toda olhando pros lados, esperando alguém dizer alguma coisa que faça sentido, esperando a felicidade das pessoas deixar de ser forçada e virar verdadeira.
Não quero mais muitas coisas que, na verdade, nunca quis mas sempre vivi porque achava que eu precisava, que eu deveria. Não preciso, não devo, não quero.
Não quero mais magoar quem me ama, a começar por mim mesma, não quero mais impor as minhas vontades quando eu não sei se quero mais tê-las. Não quero saber se vou te amar pra sempre, se vamos andar de mãos dadas quando as nossas estiverem enrugadas, não quero mais pensar na minha vida sem você, não quero mais pensar na minha vida com você, não quero pensar em carreira, em casamento ou em filhos, não quero pensar. Vou ser breve, me dê só um momento pra respirar. Não quero saber de mais nada.

Quero silêncio.

"A bossa nova é uma punheta que se toca de pau mole"

Publicado  quarta-feira, 13 de outubro de 2010

        A afirmação que intitula este post foi feita pelo nosso velho conhecido Lobão, em um programa da MTV apresentado pela MaryMoon. Eu resolvi postar um trecho de uma outra declaração do Lobão aqui porque ela é, acredito eu, no mínimo, intrigante.
Gostaria de deixar claro que não ratifico nem repudio a opinião dele, simplesmente achei interessante expor o texto. EU SOU SIM apaixonado pela Bossa Nova, mesmo que eu tenha estudado pouco, mesmo que eu nunca tenha visto ao vivo Jobim ou Powell, aqueles tradicionais acordes de meia diminuta sempre acalmam meu coração. E EU SOU SIM, incondicionalmente apaixonado pelo Rock n' Roll, aquele mesmo, calcado no Blues e no R&B; desde aquela sutil pitada de country de Chuck Berry até o peso, a cadência e a técnica do metal contemporâneo.
Assim sendo, aí vai o texto:

"(...) E teve toda aquela campanha contra o funk…
Eu fico pensando nesses negócios de fazer palestras em universidades, fica um moralismo às avessas, dos rockandrollers contra a bunda. Mas você quer mostrar o quê? O seu cérebro? Ora, vai tomar no cú. Eu tava vendo o Ziraldo na capa de vocês, quando ele tava na época da “Bundas”, ele deu uma entrevista no Roda Viva e tava muito feliz com a revista. Aí perguntaram o que ele ouvia de novo. Aí ele falou: “Ah, Chico Buarque, Caetano, Gil…” Aí o cara falou assim: “E o Renato Russo?” O Ziraldo: “Ah, eu vi no obituário que ele morreu…” Você tá entendendo? Isso é uma merda. E o rock funciona nesse sentido. Agora, eu tenho severas críticas a fazer, porque o rock virou um lixo moralista, xiita. Quando se mistura com alguma coisa, os caras querem “rock puro”. Mas, não, o rock não foi feito pra isso. O lance do hip-hop, por exemplo. É quase como um chute no saco da intelligentsia, que quer o puro, mas o Brasil não pode ser puro, é 100% mestiço, a gente é um subúrbio do terror, a gente pega da matriz pra poder reciclar tudo, inclusive a bossa nova era assim, o samba foi assim. O choro é uma mistura de polca com umbigada. Você no século 21 não vai querer pegar tudo que está acontecendo na matriz, sendo colonizado do jeito que a gente é? E só podia ser assim. O Caetano esses dias tava na MTV e falou assim: “O Brasil tem que ser bossa nova.” Quer dizer, ele quer um retrocesso. A bossa nova é uma coisa anacrônica, absolutamente anêmica e bem débil-mental, né? “O parquinho, papauera…” Ah, vai tomar no cú, rapá. Eu tenho conhecimento de bossa nova, eu sei o que é bossa nova, eu sei construir padrões harmônicos, mas isso é anacrônico. Isso é cheio de varizes. Varizes sem sangue, ainda por cima. Parece que é uma coisa assim: um é “alta cultura”, o resto é “baixa cultura”.Isso. Mas eu acho que rock and roll is a fine art. O rock and roll está embutido em artes plásticas, você pega artes de vanguarda, tudo é rock and roll. Cinema, escultura, pintura, tudo a partir dos anos 60 é rock and roll. Se você for ver o hip-hop, ele tem rock and roll. Jorge Ben é rock and roll, mas Caetano não é. Por quê? Eu tive esse pequeno insight agora. É o lance de Dionísio e Apolo. Uma coisa é dionisíaca, é a paudurescência, yeah, GRRR, a outra é a coisa purinha, é harpa, ahhh. Por que se despreza a bossa nova? Porque, na verdade, o impulso de você criar a bossa nova não é pelo que você está sentindo, é pelo que você quer mostrar. Geralmente o cara da bossa nova quer mostrar os acordes que ele usa. Ele está preocupado com uma forma. Ele está preocupado em fazer sinuosidades vocais. Você olha pra isso e pensa: “Que ingênuo.” Você passa mal com isso. O cara parece um crente. É careta. Todo mundo gostaria de sentir uma empatia positiva por isso, mas você não sente, você fica pensando que o cara é um crente. Não adianta, é uma merda a bossa nova. Porque está no corolário das coisas apolíneas. Mas eu quero Dionísio, eu quero com êxtase, eu não quero ficar pensando sobre isso. Fazer uma coisa apolínea é só se informar sobre aquele padrão, que nem é muito complicado, diga-se de passagem, e ficar lá fazendo “paaaraaa, parararaaa”, e ficar naquela punheta estética babaca. Ah, vai tomar no cu o João Gilberto. Eu faço “Me Chama” e o cara vai cantar daquele jeito que gravou? O Caetano diz que ele é máximo, máximo é o caralho. Ele é bom, mas não pode esse cara ficar empatando a foda de gerações e gerações e dizendo que ninguém vai atingir o que ele fez. O caralho. (...) "

        Em outra entrevista concedida a Ricardo Schott do JB durante as preparações para o festival Mada (em Natal, Ago/08), o carioca Lobão aproveitou para comentar sobre a versão de sua música "Me Chama" feita por João Gilberto: "Na verdade ele assassinou a música, né? Cortou até o 'nem sempre se vê lágrimas no escuro', porque não entendeu. Tem que dessacralizar esse cara e essa coisa da bossa nova, que não passa de uma punheta que se toca de pau mole. Não tem ninguém que o João Gilberto tenha chamado mais para ir na casa dele do que eu. E eu nunca fui (...) Bossa nova é uma língua morta, assim como essas bandas de choro e samba que existem hoje, que ficam tocando naquele lugar sujo que é a Lapa. Tem que parar com essa coisa de ficar lambendo o saco de 'universotário' marxista branquelo, essa coisa de 'Loser' manos, petista, que virou maioria no Brasil. Porque o Brasil é o país da culpa católica, um país em que se valorizam as pessoas feias."
        Quando Schott perguntou a opinião de Lobão sobre a saída de Gilberto Gil do ministério, a resposta foi seca: "O Gil, cara... isso vem, para mim, antes de ele ser ministro. Ele é falso, vem com aquele discursinho de 'a rebimboca da parafuseta' e não fala coisa com coisa. E ficam as pessoas falando 'nossa, você viu como ele é culto, como fala bem?'. O Gil não fala nada, enrola todo mundo. O Caetano é que é legal. A gente já brigou muito mas ele vai lá, fala, se defende."

O amor que bateu asas e vôou...

Publicado  terça-feira, 12 de outubro de 2010

"Idealizar é sofrer. Amar é surpreender."
[Martha Medeiros]


Amores que vão e vêm...que passam, cruzam, viram, mas nunca param. Será que isso nunca acaba?
Lembro de uma música que ouvia quando criança que dizia em inglês: "Twist and turns but will this never ends?", eu cantarolava, mas não entendia exatamente do que se tratava. Hoje em dia acho que entendo melhor o que aquelas palavras diziam. Quando a gente é criança a gente vive sonhando com o príncipe encantado, com o homem de nossas vidas. Costumamos achar que não ficaremos pra "titia" em hipótese alguma, que seremos sempre bem e infinitamente amadas.
Aí a gente cresce, quebra a cara uma e outras vezes, fica amargurada e deixa de acreditar no amor, no conto de fadas, no final feliz. Ficamos indignadas por não acharmos a tampa da nossa panela, o nosso cobertor de orelha e culpamos o amor (ou a inexistência dele) por isso.
Mas será que se a gente não tentasse ver onde NÓS estamos errando as coisas não melhorariam um pouco? Será que se conseguíssemos enxergar que a felicidade está nos gestos simples do dia-a-dia e não somente nas superproduções ensaiadas nós não veríamos que já fomos amadas?
Ele não te quer mais, mas um dia ele te quis, ele te pegou daquele jeito, ele beijou sua boca de um jeito que você não consegue explicar e te fez muito especial, mesmo que por pouco tempo. Ele segurou sua mão, fez uma brincadeirinha com sua covinha nas costas. Ele já prestou atenção em você.
Não adianta ficar chorando e parar a vida toda porque uma pessoa parou de enxergar você. Não é porque um amor não deu certo que o amor é uma mentira. O problema é que estamos acostumados a buscar, desde sempre, por um amor "pra sempre", quando na verdade o "pra sempre" é a parte mais mentirosa da história toda.
Nada é pra sempre, nem amor e nem dor. Ame, ame muito, seja patético. E depois sofra, chore, fique arrasado. Amor é intenso, é único a cada nova vez...e é errante.
Que seja gritada a citação do poeta, que berre meu coração a cada nova oportunidade de bater de novo...e, principalmente, que não haja medo de começar algo que vai acabar um dia, porque o medo paralisa e amor é sim eterno, mas só enquanto dura....

A espera

Publicado  sábado, 2 de outubro de 2010

Atrás da pista tem um bar e atrás do bar tem um sofá. Estou sentada nesse sofá. Aguardo ansiosa por algo, olho as horas no celular, checo o e-mail pelo Iphone, reclamo com minha amiga “tá demorando”. Ela me pergunta se é o show, se é a menina passar com a comida. O que é? Não sei. Mas tá demorando. Em cima do bar, no teto, tem um daqueles globos que sempre tem. Olho pro globo e penso que estou uma eternidade sentada naquele sofá. Mais de vinte anos? Descanso os cotovelos nos joelhos e me arrependo, enquanto todos querem ver e ser vistos, eu fico nessa posição feia de vaso sanitário. Minha amiga vai fumar. Eu me animo “já tenho pra onde ir”. Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Mas eu já tenho pra onde ir. E vou. E ao chegar lá fora, continuo achando que está demorando. Sinto falta do sofá agora. Mas quando minha amiga acabar o cigarro, eu já terei novamente pra onde ir. E assim uma festa chata me lembra muito a vida. A eterna oscilação entre ir lá fora ver e voltar pro sofá, sempre só pra ter pra onde ir. Eu olho de novo no celular. Eu posso ir ao banheiro e isso já é um lugar para ir. Me animo. Não, não me animo. Tudo me deprime. Eu ficar chupando a barriga pra dentro pra esconder que tenho um pouquinho de pança, eu ficar me equilibrando no salto, eu ficar fazendo minha cara de “não encosta em mim”. Tudo me deprime. As pessoas falando de trabalho, as pessoas forçando falar qualquer absurdo só porque o óbvio seria falar de trabalho. E principalmente: o grupinho de moças muito altas e muito loiras que não trabalham mas estão lá porque estar nesses lugares é o trabalho delas. Tudo é tão chato mas eu fiz cabelo e maquiagem. Antes da meia noite não dá pra ir embora. Preciso me gastar um pouco pra não dormir tão antes de tudo dar errado. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo. E eis que adentra à festa o rapaz que, não faz nem uma semana, mas foi só um moço muito bonito que durou uma semana. Mas ele também reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: será que demora? Não sei. Não, não demora mais. Ele não é a resposta. Ah, Marília. Você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. Que é que você quer? Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Ninguém é a resposta. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam pra nada a não ser frequentar festas para sair em revistas e angariar empresários. Finalmente já tenho o que esperar: o carro. Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.

Chega de fabulações romanescas

Publicado  terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu odeio as pessoas...
Não as quero por perto.
Elas nada me acrescentam e eu a elas tampouco.
Pois não há o que ser acrescentado.
Não há o que ser transformado.
Não há o que ser aprendido.
Por muito tempo evitei tal sentimento tão destrutivo.
Mas paulatinamente ele me dominou.
A essência de cada indivíduo, para os outros e muitas vezes para ele próprio, é incognoscível, e, portanto, irrelevante.
Em vão as pessoas tentam se entender. Ninguém pode verdadeiramente entender ninguém.
Nunca se entenderão por completo, e, caso se entendam, o que terão entendido afinal?
Alvíssaras! A compreensão é uma ilusão estéril.
Essa noção estende o conceito de solidão consideravelmente.
Assustadoramente.
E estou convicto de que essa é a grande razão para a crença em um ser superior.
A idéia de que existe alguém que nos conhece e entende tão bem, alguém tão acostumado à nossa nudez de corpo e alma quantos nós mesmos é, de certa forma, reconfortante.
As pessoas têm medo de abandonar as premissas, de se entregar à loucura.
Não são mais fortes do que os códigos misteriosos gravados no coração do homem.
E não percebem que desse modo estão abandonando a si próprios...
Opinião incipiente? Sim.
Opinião insipiente? Talvez.
Mas chega de corroborar críticas fáceis.
Chega de normalidade, de senso comum, de idéias perfeitamente concatenadas, de 'coerência mórbida'.
Chega de sílabas moduladas mecânica e artificialmente:
Eu odeio as pessoas!

!

Publicado  domingo, 19 de setembro de 2010

A gente só faz 18 uma vez na vida.
Todos me disseram o mesmo:
"Fazer 18 anos não muda nada na sua vida."
É, não mudou muita coisa. Agora posso comprar álcool, cigarro, entrar na balada... Coisas tão, hum, indiferentes. Eu podia fazer tudo isso antes também (mesmo que pra isso eu tivesse de fazer um RG no Photoshop).
O engraçado é que eu continuo cheia de responsabilidades. Continuo tendo de acordar às 7h todo dia, pegar o mesmo trânsito, estudar, passar em casa só para almoçar e ir trabalhar... E no meu trabalho então? Tantas responsabilidades, tantas coisas pendentes, tanta gente me cobrando... Meu chefe pedindo certas coisas, minha chefe me dando tarefas... Difícil.
E aí chega o sábado e estou tão cansada que acabo faltando no treino de jiu-jitsu e aí sou cobrada pelo professor: "Por que você faltou? Quero ver você aqui."
E o pior é que minha vida tem sido assim há tanto tempo.
Eu sempre estive a frente do meu tempo.
Comecei a namorar com 13 anos, trabalhar aos 16 anos... Comecei a faculdade aos 17 anos. E, ah, sim, eu que pago a minha faculdade, eu que pago tudo o que eu consumo. Sai tudo do meu bolso. Aí você me pergunta se sobra alguma coisa por mês e, meu caro, não sobra, às vezes falta e eu tenho de me virar. Sem contar que no ano passado passei por uma cirurgia de grande porte... Ah, hoje eu carrego uma cicatriz. Graças a essa cicatriz lembro todos os dias de como foi o meu ano de 2009... Talvez o pior da minha vida. E inacreditavelmente encarei isso de forma tranquila. Após minha operação sabe o que eu pensava? Que aquilo marcava uma nova época da minha vida.
Incrível como eu sou racional, sou madura... Sou mulher. E isso não mudou porque eu fiz 18 anos, isso sempre foi assim. Cresci rápido demais, sou independente demais.
Eu queria ser imatura, ser infantil. Queria viver num mundo ilusório. Juro.
Quando eu era inocente, era tudo muito mais simples.
Admito que estou feliz de ter 18 anos, mas eu só queria que as coisas viessem um pouco devagar. É muita pressão e eu vou continuar sendo a Hellen de sempre, encarando os problemas, fingindo estar bem mesmo desmoronando e o melhor de tudo... Vou ser feliz desse mesmo jeitinho.
A única coisa que falta para marcar isso (porque sim, eu quero marcar essa época louca da minha vida) é a minha tatuagem de "!". Pois é, existe símbolo melhor para marcar isso do que uma exclamação? O que falta para que isso seja feito? Tempo e dinheiro.
Mas, vamos embora porque o tempo não para e logo, logo a segunda-feira vem aí!

Nossos

Publicado  segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A cama deles ali, e ele deitado como quem não quer nada, como quem nada pensa, sereno, meio de lado, peito aberto pra lua e sonhos encaminhados pra alguma outra pessoa bem mais leve do que ela conseguia ser. Ele ali, deitado na cama deles, abraçado com seus travesseiros, olhos entre abertos e poucas preocupações.
Do outro lado estava ela. Rosto virado pra parede, ombros tensos, olhos marejados por não saber mais se tudo aquilo que ela tem mania de chamar pelo possessivo de dois, realmente ainda lhe pertencia. Ficava pensando se era assim mesmo, depois de muitos anos, que os casais se separavam naturalmente. Sem brigas, sem escândalos, sem outras pessoas e sem problemas fáceis de estipular um motivo, um limite, um porquê. A cama perfeita, o lençol esticadinho, ele tinha o espaço certo de se mexer com folga e ela já tinha se acostumado a dormir toda encolhida na vontade de suprir o abraço, a conchinha ou o chamego que há tanto tempo não vinham.
Em poucos segundos ele adormecia e seu sono, junto com seus sonhos, iam para sempre mais longe, alavancados por cada um dos suspiros longos que ele suspirava ao dormir. Ela, muitos e muitos minutos depois, permanecia acordada, remoendo na sua cabeça todas as coisas que ela pudesse ter feito errado, matutando a noite toda se a culpa era dela.
E os dias eram tão ocupados, ela nos compromissos dela, ele nos afazeres dele, que ficava ainda mais difícil de entender o quê ainda segurava os dois juntos todas as noites, ali naquela mesma cama tão quieta e tão barulhenta. Se ela conseguisse emudecer seus pensamentos por um segundo, igual faz o controle da TV, seria realmente o quarto mais pacífico do mundo, nenhum barulho, nenhuma voz, nenhum sussurro, nenhum gemido, nenhuma jura de amor, nenhuma briga, nenhum nada. Sua cabeça a mil por hora, barulhenta e seu quarto calmo, cheio de nada.
Levantou de madrugada num impulso de gato, tão milimetricamente calculado que não esbarrou em nada, nem no silêncio. Vestia regatas, calcinha e meias. Vestiu calça jeans, casaco e botas. E foi embora.
Na manhã seguinte, depois de ter andado por horas sem saber exatamente pra onde estava indo, começou a sentir o ar entrando em seus pulmões, a cabeça ficando mais leve, sem tantas idéias de culpa que por tanto tempo ela tinha acreditado que devessem ser dela. Na manhã seguinte, ele acordou com frio. Olhou pro lado e sua cama de lençol perfeitamente esticado estava fria. Olhou dentro do armário e percebeu que todas as coisas dela ficaram lá ,não porque ela pretendia voltar, mas sim pra mostrar pra ele que não são as roupas, os livros ou os corpos de alguém que fazem aquela pessoa presente. Ela já não estava lá há tanto tempo.
Andou pela casa por vinte minutos. De um lado ao outro, meio atordoado. Sua cabeça começou a maquinar tantos pensamentos confusos, começaram a surgir, então, as dúvidas, as indagações, as sensações de culpa. Percebeu que estava sem ar.
Duas horas no pronto socorro depois, voltou pra casa e decidiu que não mudaria nada de lugar, porque embora ela tivesse ido embora na madrugada, como gato, sua cabeça poderia esfriar e ela voltaria, ela tinha que voltar. Mas o que ele esqueceu de pensar é que quem a mandou embora foi ele mesmo. Sua cabeça barulhenta não a deixava mais trabalhar, pensar, sorrir ou dormir. E agora, andando sozinha o vento batia em seus cabelos e sua alma estava quieta. Ela não tinha medo do frio ou da falta de abraço porque percebeu que quando se está sozinha, se algum abraço vier vai ser surpresa boa. Ela gostou da idéia de não ir dormir ao lado de certezas ruins todas as noites.
E o apartamento deles continuava sendo deles tanto no contrato, quanto na decoração e também dentro de cada armário e caixinha, onde ela deixou tudo aquilo que um dia foi dela mas que ela percebeu não precisar mais; percebeu que era nada mais que puro apego. O apartamento, a cama, os lençóis e os travesseiros deles, nossos, como sugere o pronome possessivo de dois e ele esperando que um dia ela voltasse.
O que ele não entendeu, no final, é que pra ser nós há de se ser um, dois em um, e o egoísmo dele fez com que ela percebesse que valia mais a pena ser feliz sendo só. A prisão que ele vive hoje em dia foi responsável pela libertação que ela vive agora.
E infelizmente, depois de tantos anos se sentindo culpada por tudo o que ela não fez, nesse exato momento, culpa era a última coisa que ela sentia. Ele está preso, mas ela está viva. Sem culpa.

1.8

Publicado  domingo, 12 de setembro de 2010

"Se não guardamos a data de aniversário de quem nos é importante na memória do coração, não vale a pena escrevê-la na agenda."

Parabéns, Hellen.

Diário da anorexia intelectual, cap.1

Publicado  sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Passava das três e ele não conseguia pregar os olhos.
E dormir, como já havia percebido, era a única coisa que o salvava dos seus próprios pensamentos.
Esvaziar a mente muitas vezes é quase tão difícil quanto esvaziar o coração.
Mesmo para alguém tão familiarizado com o vazio.
"Viver é difícil" - pensou - "e os tacanhos que ignominiosamente afirmam que não é, não vivem de verdade".
As idéias lhe fugiam com a mesma frequência que lhe surgiam.
Esboçava pensamentos vagos, etéreos, inconclusos, reticentes.
"Quando foi que eu me tornei tão dependente da aquiescência alheia?" - murmurou.
"Há duas décadas você é dependente da aquiescência alheia, Wagner. Sua vida não tem nada de insólito; seu saber é fruto da cultura de massa, dos factóides; sua capacidade cognitiva é deliberadamente limitada. Seus problemas de autoafirmação são cômicos. Mergulhe no opróbrio e vá dormir, é o melhor e mais conveniente a se fazer." - uma voz no fundo da sua cabeça lhe respondeu.
Levantou-se e bebeu um copo d'água na cozinha.
Sentou à beira da cama, consternado.
Naquela noite percebeu que, embora desejasse, não seria capaz de viver à míngua de introspecções filosóficas.
Nos dias seguintes, com um fervor quase religioso, evitou pensar em qualquer coisa, convencido que a alienação plena não existe.
E acaso existirão os alienados?

A vida que quero ter...

Publicado  quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Há quase duas semanas tenho pensando nesse título, nesse texto e nos meus desejos. Afinal, a vida que quero ter não pode ser decidida em minutos ou dias poucos ou até mesmo sob circunstâncias que modifiquem minha real vontade. A vida que quero ter é azul, não porque azul é a cor da preguiça, mas porque azul me dá vontade de sorrir, de relaxar e de fazer com que os outros próximos a mim sintam a mesma sensação de relaxado sorriso. A vida que quero ter tem som alto, onde cantar é um verbo alto e sem vergonha, dançar é uma locução indispensável a qualquer português musical e que todo cantor venha a se encantar ao cantar qualquer canção. A vida que quero ter é cheia de amigos eternos de um dia e lotada de amigos com prazo de validade para a vida toda e sempre, sempre ter um bom sonho a se buscar. A vida que quero ter é cheia de livros, de artigos, de estudo, conhecimento, aprendizados, provas, testes, resultados, aprovações. A vida que quero ter tem sabor de sede coca-cola, tem gosto de chiclete big-big e hálito de halls de melancia. A vida que quero ter tem cachorros grandes, pequenos e dos que latem, gatos peludos, de bigodes e dos que gostam de passear pela noite. A vida que quero ter tem John Mayer para os dias tristes, Cássia Eller para os dias de saudade e todas minhas outras bandas para meus ouvidos e corpo poderem diversificar. A vida que quero ter é repleta de praia e recheada de São Paulo. A vida que quero ter cabe política, cultura, espetáculos, teatro e cinema. A vida que quero ter é disciplinada, é organizada e pautada em uma lista de itens a serem cumpridos, afinal, o segredo da organização é não bagunçar o que está arrumado. A vida que quero ter é cheia de comida boa, de frutas maduras e de chocolates gordurosos. A vida que quero ter é cheia de paixões, paixões por meus amigos, por minhas coisas, por seus sorrisos e por sua felicidade. A vida que quero ter é cheia de família, gigante de mãe, esperta de pai e gostoso como irmão mais novo. A vida que quero ter é cheia de mistério, de curiosidades e experimentações. A vida que quero ter é de amor, mas que eu possa deixar no coração de cada nova paixão uma lembrança de carinho e uma vontade. A vida que quero ter, afinal, é exatamente a vida que agora tenho; não sou a mulher mais feliz do mundo, não vou realizar alguns sonhos e tenho que me readequar com novos e futuros novos planos: paciência! Nem tudo sai como esperamos e nem todos ficam do nosso lado para sempre. A pessoa que mais importa hoje é aquela que vejo no espelho, a pessoa mais interessante e a pessoa do qual mais devo dar, agora, atenção. O segredo da felicidade está todo dia conosco, todo dia em nossas mãos e a nosso alcance, não é amar e ser correspondido, ou jogar e ganhar ou estudar e passar: não; isso é apenas mérito do que você é, do que você fez e do seu esforço. Felicidade é estar em paz com a paz com que você mesmo se faz, é poder acordar com seus pensamentos e sorrir com eles, é se olhar no espelho e esquecer as espinhas e lembrar que existe alguém foda pra caralho sendo refletida, que a somatória da física, óptica e refração me deixam enxergar a pessoa excelente que nós somos e SEMPRE poderemos ser. Dificuldades, problemas e dores de cabeça? Inevitáveis! Mas o que pode ser tão ruim que me faça desistir de mim, que me faça me querer menos, me desejar sem vontade? Se eu pudesse ser duas, seria duas exatamente iguais a mim, não por ego ou por auto-adoração ou egocentrismo, que seja, mas porque me sinto bem com o que sou, com a pessoa que agora sou e com a mulher que pretendo e lutarei para ser. Estou entrando na fase adulta desde meus 14 anos, segundo minha mãe, mas nunca nesses meus quase 21 anos me enxerguei menos filha, ou mais mãe e até mesmo menos criança. Não por minhas condutas ou gosto por desenho – dane-se, eu os adoro -, mas por ainda sempre precisar de um adulto [pai e mãe] por perto. Ser gente grande é tão complicado. Todos cobram, todos pedem e raros são aqueles que te dão. E eu tenho a péssima mania de me cobrar mais que todos, só para tentar, mesmo que inutilmente, mostrar que sou melhor do que podem ou do que eu mesma posso esperar. A ilusão é doce, a visão amarga. Eu quero mais é me provar, meu auto-torturar e me provar que posso ser tão boa quanto eu precisar ser. Não é sadismo, não me interprete mal, mas é apenas vontade de ser capaz do que quiser ser capaz. A vida que quero ter é feliz, é sofrida e mesmo assim é FELIZ.

Ela foi apenas mais um luxo para a sua coleção de futilidades.

Publicado  quarta-feira, 8 de setembro de 2010

E ela ria, uma risada gostosa e livre. De repente a vida ficou clara, ela deixou de ser vitima das circunstâncias e começou a desejar a liberdade.

Ela deixou de ser mais um bibelô para enfeitar a estante cheia de troféus que ele tinha, não seria mas a peça que faltava para a sua coleção de futilidades. Deixaria de ser fútil, e não teria medo de dizer em quantos pequenos pedaços seu coração foi quebrado, mas que o último pedacinho estava sendo colado, e ela falava tchau.

Abandonou o circo, desceu do picadeiro e olhou para trás e disse brincando “ Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades...”

Bastou para todos entenderem que a festa tinha acabado.

Ela se foi, mas continuava cheia de vida, apesar de tanto tempo na estante, sua vibração continuava ali, viva e pulsando dentro dela, pronta para vir a tona. No final tudo sempre dá certo.

Eis que então ela entendeu, que felicidade não chega, caminha junto, ao lado. Basta apenas deixar que ela entre dentro de você.

Ela foi embora, mas não deixou nada para trás, pois leva junto do coração, com todos aqueles pedaços colados as lembranças de todos os momentos que o fez rir e se entregar. Pois sua felicidade era ver a entrega dele, era tirar aquela mascará fria de pierrô abandonado. A felicidade dela era ver o êxtase na cara dele, a satisfação e a alegria de poder ser ele mesmo por alguns segundos. Então ela foi embora justamente para não deixar morrer cada pedacinho daquela história.

A platéia ficou triste, não entendeu o final sem ofamoso "e foram felizes para sempre". Nem todas as histórias de amor são assim. Muitas terminam pela metade outras em um picadeiro de brincadeiras tolas e algumas no silêncio de gestos vazios.

Ela sabia pelas vezes que estavam satisfeitos um com o outro, o silêncio reinava, aquilo não era mais amor, era obsessão, falta de coragem de encarar que havia um momento em que tudo terminava e as pessoas se deixavam e o momento deles havia chegado!

Ela disse tchau ele disse adeus. Ambos viraram a cara, seguiram caminhos diferentes. Ela torce para ele aprender a aceitar as pessoas com seus defeitos, ele torce para ela mudar seu jeito eloqüente. Ambos sabem o quanto foi intenso enquanto durou.

Mas também aprenderam que um dia o amor acaba, no silêncio vazio de um quarto ele diz adeus, no abraço apertado que some ele já se foi! No beijo frio de madrugada ele infelizmente deixou apenas um grande carinho.Ela percebeu bem cedo talvez, que antes carinho por ter acontecido do que a tristeza de continuar tentando se chegar a lugar algum!

Ora ou outra um vazio encontra o outro...

Publicado  terça-feira, 7 de setembro de 2010

E essa sensação é tão estranha, que tudo fica estranho e o vazio toma conta como se fosse uma noite gelada de julho, nas calçadas de volta pra casa, com as sandálias nas mãos e o coração em frangalhos, por mais uma noite sem um cobertor para aquecer o frio que ando sentindo neste calor tão intenso do quase verão...
Nada faz sentido, porque o sentido todo está em sentir e quando não sentimos ficamos sem saber ao certo o porquê do silêncio que nós mesmos pronunciamos...
É o silêncio dele que não foi, que mistura com o meu que não quis, é a vida dele que mistura com a minha, com a saudade nossa e do que fomos um dia.
É o palhaço que usa a maquiagem para esconder a dor, são as fotografias que registram o sorriso de paz, é a paz que se mistura ao fim do dia, o dia que custou a passar porque estamos assim, sem ninguém para se querer mais.
Há quanto tempo ando sozinha, há tanto tempo que não quero ninguém, minha mãe dizia que a gente acostuma com a solidão, acostuma a ser sozinho e aprende a se bastar.
Mas ela se esqueceu de contar que quando a gente sabe o que é um carinhozinho, aquela vontadezinha de abraçar o nosso, nunca mais vamos gostar de estar sozinho por muito tempo.
Porque o tempo voa e mostra dia sim e dia não que amanhã pode ser inverno e vai sobrar cama pra tanta solidão.
Então, me perco nas palavras sem sentidos, no vazio gelado que está meu coração. Meio estranho, sem graça e sem jeito ele me avisa todos os dias que já ta cansando de tanta falta de consideração.
Briga em silêncio, grita em gestos tentando mostrar que enquanto não me abrir o amor vai estar do lado de fora, esperando quem sabe um dia para entrar e preencher o vazio!
Fico entre meus livros inacabados e meus rascunhos rabiscados na cabeceira da cama querendo escrever a paz que sinto e sentindo a tremenda falta que o amor me faz, uma história meio sem rumo, uma bagunça sem sentido um sonho vazio...
Acabo vendo em tudo um começo, uma história cheia de sentindo, só preciso de um lápis para desenhar os personagens.
Personagens, esses que fazem parte diariamente da minha história, dos momentos que vivo dos instantes que crio.
E o coração continua vazio, estranho, intenso..
Como ter um coração intenso e vazio? Ah espaço demais para a intensidade que gostaria de estar sentindo....
E eu que tanta vezes pedi em silêncio, em um passado não muito distante que o amor me deixasse em paz...
É, e não é que ele deixou, com tanta paz que silencia a rotina chata e sem graça que ando levando...
Ando por ai registrando momentos, finais de tarde com a esperança de encontrar por ai alguém perdido como eu...Nas livrarias que entro, nas ruas que ando, nos bares que freqüento, mas nada mais faz com que eu entenda onde foi que encontrei esse vazio tão grande e fiz dele meu parceiro diário...
To querendo deixá-lo para trás, só falta coragem, só falta coragem!!!!
Enquanto isso, ando por ai registrando o momento que estou tão vazia e consigo preencher com alguma coisa que faça valer a pena estar viva...
Eis o sol, que brilha todos os dias e quando vai embora deixa para trás rastros de que vai voltar...
Enquanto isso eu espero, nesses caminhos loucos que a vida faz, ora ou outra esbarrar com alguém mais vazio do que eu, daí a gente junta todos os vazios e fica tudo preenchido de tanto vazio,mas daí já não vai ser o vazio só meu, vai ter alguém pra dividir comigo!! E assim vamos..na espera de que algo aconteça...

Sinto muito, mas não sinto nada.

Publicado  segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Já não sei mais porque/ Em ti eu consigo encontrar/ Um caminho, um motivo, um lugar/ Pra eu poder repousar meu amor"
[los hermanos. eles sim sabem o porquê.]


...Não tem sido fácil.

Nenhuma das coisas que eu faço, por fazer, por continuar, por não poder parar de escrever uma história, mesmo que picada, para poder chegar onde é fresco e, no final do dia, você vem. No final do dia você vem de verdade.
É no trânsito sempre que você aparece pra mim. Aparece no metrô, na escada rolante, no caos dos restaurantes no horário do almoço, no meu banho quente pela manhã, na festa, no bar e na novela das oito.
Tanta gente, tanta confusão, tanta coisa. Eu deixei de sentir tanta coisa por aí à fora porque, lá fora, é feio e sujo, e juro, já deu no saco ter que me sentir um saco de lixo fazendo a caridade de recolher entulhos por ai.
Os dias passam lerdos pela necessidade que a gente tem, agora, de se arrastar, também, para o final das escolhas que vão deixar de ser um monte de vontades misturadas e acumuladas para se tornarem funcionais, pontuais e palpáveis, finalmente. A gente se esfrega forte no chão que é pra não ter que voltar pro fundo do poço nunca mais. A superfície está rasa e cheia de oxigênio esperando pelo respiro, de qualquer forma.
Mas é estranho acordar de manhã e conviver, todo santo dia, com o reflexo me contando que, aquilo que se vê, é uma casca vazia. É difícil manter uma conversa de mais de três frases com alguém que exala testosterona, quando nenhuma virilidade do mundo é capaz de vencer a batalha contra os super-poderes, as super-habilidades e o super-espaço do super-homem, não o da capa azul marinho e sunguinha vermelha bem a la babado-bee, mas sim aquele que cresceu devagar dentro de mim, durante todo esse mês.
Difícil seria explicar pra mim mesma tantas certezas abafadas pela lucidez de uma vida regrada, linear e sem emoção. Tantas vezes tentei abrir a boca pra explicar pra meio mundo o porquê de o meu mundo ser melhor agora, ainda que com essa metade de mundo entre a gente. Acabava de boca mole e garganta seca porque a felicidade não é exatamente uma coisa bem recebida por quem não vai desfrutar dela.
Os dias têm sido chatos, as noites longas, os banhos frios, o olfato nulo, a visão turva, o tato preciso... e sozinho.
As coisas passam coloridas por mim, mas não conseguem brilhar o suficiente pra ofuscar o que berra fosforescente lá no fundo. Colorido por colorido, escolho o bom e velho preto e branco que, inclusive, encaixa melhor com a melancolia. Se for pra sofrer, que sofra bonito.
Deixo que eles passem todos por mim, então. Deixo meus olhos se fecharem , meu coração estancar um pouco do sangue, minhas mãos se aquietarem onde eu possa pensar melhor em você. Deixo meu semblante de gargalhadas exageradas se acalmar num sorriso breve e lateral, tristemente esperançoso.
Sofrer a falta de você dói tanto que me anestesia da dor.

Não tem sido fácil, eu sei. Mas - sem sentir nada por te sentir tanto - eu decidi esperar por aquele dia em que, no final, você vem. De verdade.

O eu lírico e os culpados

Publicado  sábado, 28 de agosto de 2010

Quantos medos cabem dentro do coração de uma pessoa só? E dentro da cabeça? Quantas paranóias um indivíduo consegue, completamente sozinho, criar e cultivar tão fielmente que acaba por virar prisioneiro das suas próprias invenções, acreditando a elas verdades que não existem?
Toda mulher tem um pouco de psicopata, tem um pouco de louca. Toda mulher acha que seus problemas são cíclicos e passa noites em claro tentando achar em traumas do passado a resposta pra pergunta que ela passa dias inteiros repetindo sem resposta nenhuma chegar à galope. Respostas para perguntas criadas por você mesma, que resolveriam aquele problema sério que você mesma inventou, nunca vêm porque não existe ninguém no mundo além de você mesma que seria capaz de inventar tais respostas. A equação e a solução em você, mas você sempre muito complicada pra descomplicar. Você equação do segundo grau, com cálculo de logaritmo e sem calculadora nenhuma ao alcance. Nem você se alcança de tanto que corre por aí procurando resposta pra tudo quanto é coisa.
Todas as mulheres que moram dentro de mim – e delas eu posso dizer –, nas nuances das minhas trocas de humor e na rápida transição de estilo nas minhas trocas de roupa, têm em comum a coisa mais incomum do mundo: a minha loucura exata. Exata porque enquanto enlouqueço é como se houvesse fora de mim outro eu, que de lírico não tem nada já que passa todos os minutos (ou horas) da minha psicose analisando tudo racionalmente enquanto dentro pode ser raiva fervendo, sangue borbulhando, pulmões cheios, amor brotando, cabeça confusa, coração hiperventilando.
Você diz que é falta do que fazer ou que é muito tempo para pensar. E eu acho engraçado você fingir que a razão é simples assim, simplesmente porque você não é capaz de entender; impossível julgar o que não se entende. Acontece que não é exatamente o que eu faço no meu dia que determina quando eu vou deixar de ser eu pra me tornar uma delas, não é porque você merece que eu morra de ciúme que eu respiro rápido todo o ar ao seu redor no minuto em que você chega só pra farejar em que ares andou você, não é porque eu acho que você se compara a tudo o que já passou que acabo te dando o mesmo tratamento de quem só merece ser destratado por mim. Se fosse simples, e se eu soubesse explicar o porquê de tantos detalhes, eu pegaria a sua mão e enrolaria ela em volta da minha cintura pra sempre porque as neuroses todas saem de uma porta que existe no meu teto e todas elas têm a ver com a minha neurose máxima, que é perder você pra sempre.
E aquele dia que eu acordei chorando porque sonhei com o que eu nem queria dizer, eu chorei porque entendi que não eram as outras pessoas que nos ameaçavam, não eram os seus sentimentos que poderiam mudar do dia pra noite e me deixar de supetão, não eram as outras mulheres, os outros homens ou qualquer uma das outras todas possíveis razões. Aquele dia eu chorei soluçando profundo e te abracei tão forte que quase te prendi o ar porque eu percebi que não são as outras coisas, as outras pessoas e nem nada que esteja nesse mundo concretizado. Chorei mais porque as frases se repetem, os parágrafos aumentam e o texto fica a cada minuto mais longo sem eu conseguir admitir pro espelho que não posso apontar dedos de culpa pra ninguém fora do meu próprio espelho. E afinal, me diga, quem é capaz de me salvar de mim?
Não sei quantos medos ou quantas pessoas diferentes vivem ou cabem dentro de mim. Não sei porque eles teimam em ficar mesmo quando eu penso que está tudo resolvido e não sei porque vão embora quando eu acho que está faltando inspiração na minha poesia e um bocadinho de loucura não me faria mal. Não sei se um dia você e todas as outras pessoas vão cansar de todas as mentiras que eu repito de jeitos diferentes há tantos anos pra não perder o meu quinhão de atenção. Não sei explicar essa minha necessidade de tanto me explicar pros outros, que é pra ver se um dia eu me aceito e aceito que por mais que eu sonhe em ser perfeita as minhas imperfeições são exatamente o que fazem de mim uma pessoa que não tem iguais. E o mais engraçado da minha paranóia é que meu maior pavor é justamente esse, de acabar um dia sentada no alto das minhas análises e dos meus medos exatos, vendo de lá de cima da minha crise esculpida à mão você indo embora com alguém absolutamente comum e descomplicadamente normal.
Não são as outras pessoas, não é o que elas possivelmente têm e eu não, não é questão de beleza, não faz relação com o amor que eu sinto, não é uma ofensa à minha inteligência, não diz respeito à minha auto-estima, não é você, não é o que você me diz e nem o que eu ouço. Às vezes a gente não quer encarar a solução de frente, e aceitar que a melhor solução pra um relacionamento disfuncional é terminar tudo pelo bem de todos.
A resposta pra minha crise eterna (e interna) não vai sair de nada, de ninguém, nem de nenhum lugar e vou ser obrigada a usar o clichê de todos os finais e dar um pé na minha própria bunda confusa, lírica e existencialista, para aprender que pensar demais não é defeito, mas pensar demais no que não existe – e logo, não tem solução – é burrice:

– Marília, o problema não é você, sou eu. Vê se trata de ser feliz.

Viva.

Publicado  quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ventos, direções, poeira, medos. Tudo tem a ver comigo, com todos, com ninguém. Não entendo ventos que assopram para direções diferentes, que apontam para várias direções gostosas, que levantam poeiras esquecidas pela chuva e pelos carros que vão passando; mas não entendo o medo que sinto de tudo isso, de todo esse tempo correndo, de tudo mudando sem que eu tenha real controle de tudo. Ventos são quentes, ventos são frios, não se sabe quem é bom ou quem é ruim, só se sabe que ventos sempre estarão aqui, independente do que e para quê, sempre estará aqui. Direções são infinitas, um mundo cheio de caminhos, uma perdição em páginas amarelas incontáveis e dúbias. Um GPS impreciso perdido numa lua ainda não descoberta. Poeira é tudo que não precisamos mais e com o tempo vai se esquecendo: pequenos amores, pequenos amigos, pequenos sorrisos, pequenos abraços, pequenas pessoas, pequenos animais… Mas até grandes amores, grandes amigos, grandes sorrisos, grandes abraços, grandes pessoas, grandes animais podem se tornar poeira, mesclar-se a esfera do esquecimento, da saudade, da vaidade, da raiva, da tristeza, da morte, do fim. Poeiras são coisas que, por mais que queiramos sólidas e indestrutíveis, o tempo faz dela pequenas marionetes, ferramentas para uma felicidade momentânea; é como criar um boi, alimentá-lo, dá-lo carinho para no fim, apenas matá-lo e comê-lo. O tempo brinca de vida, brinca de carrasco. Sempre tive muitas rivalidades com o relógio, quem conhece meus atrasos não-esporádicos sabe disso, mas nunca estive tão atordoada com essa velocidade. O corpo é apenas passagem, um caminho, um sapato usado pela vida, algo que quando estiver velho demais, seremos jogados no solo, assim como todo lixo. Ventos sopram quente, ventos sopram frio. Direções apontam norte, leste, oeste e sul. Poeira é aquilo que você quer, deseja ou não quer e não deseja, mas não pode impedir, que vá embora de sua vida. Medo? Medo é um perigo, um receio, um preceito, uma dádiva, um sentimento, uma música. Nada se ganha prostituindo-se do medo, nada se ganha se vendendo ao medo. Só não queria ter medo de deixar o vento levar a poeira. Só não queria que o vento mudasse tudo tão rápido. Quanto a direção estou satisfeita, meu caminho é uno, não devo mais me desviar, a vida de indecisões é passado. A maior certeza é aquela que legitima sua vontade. Porque vontade sem certeza é algo aceitável, digno, desejável; agora certeza sem vontade? Definitivamente você não tem certeza de nada. Porque aprendi que sentir saudade não diminui a distância, ou a vontade, ou a certeza ou a intensidade. Pode diminuir a esperança, a expectativa, a confiança, mas saudade é um muro, não se sabe se é bom ou se é ruim. Dói, realmente dói. Mas será que tudo que dói realmente é ruim? Acredito que existem certas dores gostosas, sério, sem ser amante de sadismo e outras correntes semelhantes. Nem todo mal é pra sempre, inútil ou não didático. O que sou hoje é uma soma de permutas, de ‘n’ divisões e várias subtrações arranjadas elevadas a raízes complexas, transformadas em números reais e algumas vezes aos irracionais; Sou uma hipérbole do passado, um pleonasmo do presente, uma metáfora pensando na elipse do futuro. A escola é sempre um caminho chato, mas até hoje nunca deixei de ser aluna: NUNCA. Perder tempo, sem dúvida, é morrer. É morrer porque não aproveitou-se o tempo vivendo, perdeu algo que nunca mais poderá ter. Algumas coisas só teremos uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. A vida não é um teclado, onde podemos jogar para amanhã o enter, contar com o insert e abraçar o delete quando achar conveniente. Pense antes de morrer matando tempo, mas não pense antes de viver aproveitando seu tempo. Agora me despeço, perder tempo digitando é, sem dúvida, um alívio. Você lê-lo, bem, pode ser uma perda de tempo. Tudo é relativo. Vidas foram feitas para se viver. Viva como viveria se não tivesse mais tempo para perder. Viva. Apenas viva.