A loucura de ser duas

Publicado  sábado, 30 de outubro de 2010

Eu tenho duas em mim. Uma é louca, gosta de ser livre, sonha com o mundo e planeja viagens malucas, explora a vida, pesquisa os sonhos. Ela se embriaga de gente e seduz a vida. Ela desenha novos caminhos e quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Essa não se apega, não se apaixona, apenas se ama. Ela permite-se apenas viver o hoje, esqueceu do ontem e não pensa no amanhã.

Ela não tem casa, não tem cerca, não tem pai nem mãe, deixou a família com um até logo, e um beijo na testa e disse “um dia estaremos juntos”.

Essa chora, dá risada, enlouquece, extrapola, não te limites. Mas ela não manda, nem na própria vida.

Quem manda é a outra, que controla, que ama, que planeja, que aguarda, que cuida.

A outra que deseja o lugar certo na hora exata. Que escolhe a cor da casa, que planeja o jantar e tem porta retrato espalhado pela casa.

A que manda anda pelo caminho certo, aquele feito com pedrinhas da musica que diz que no final da rua tem um bosque.

Essa chora as vezes, mas sente mais. Sorri sempre, leve semelhança com a outra. Ela ama demais e as vezes esquece de dizer, tem planos com o homem que escolheu e esquece de contar.

A diferença entre as duas é que uma pensa de menos e a outra pensa demais.

É a briga interna que me deixa maluca as vezes, a que quer correr o mundo fica estragando os planos da que quer apenas a segurança do amor que tem...

Elas se confundem e se estranham, mas a sensatez daquela que cuida e ama sempre vence.

Mas tem dias, tem dias que a outra entra em cena e eu fico a mercê do que ela deseja, morrendo de vontade de correr pro abraço e cair no mundo, mas daí eu lembro que dentro ainda tem um coração que não tem coragem e nem vontade de deixar tanto para trás.

Daí a vontade passa e eu continuo olhando o mundo pela janela...

Não quero

Publicado  domingo, 24 de outubro de 2010

Vou ser breve.

Breve porque quero, breve porque preciso, breve porque não me agüento mais chorando pelos cantos, porque não agüento mais sempre ser apontada como a sofredora, a guerreira, a sobrevivente. Afinal de contas, qual foi a guerra que eu entrei que eu não me lembro? Não me deram uniformes e nem fardas, não me ensinaram a atirar e a me esconder de granadas.
Não quero mais guerra, quero paz.
Quero acordar de manhã, ir pra praia e sentar na areia sem pensar em quem vou encontrar, no que vou dizer, em quem vai ser meu amigo naquele dia. Não quero mais saber de números, de pessoas repetidas, de forçar melhores amizades só pra não me sentir imensuravelmente sozinha. No fundo, afinal, todos somos sozinhos. Ninguém nunca vai me entender por completo porque só quem tem a capacidade de me completar sou eu, não quero mais buscar complemento em nada.
Não quero que minhas palavras sejam mais fortes do que eu, que meus pensamentos me deixem o dia todo presa em um canto da casa só, maquinando na minha cabeça como a minha vida poderia ser boa se eu me deixasse viver. Não quero chegar aos trinta como cheguei aos vinte, pensando que não alcancei nada do que disse que queria, do que achava que queria, do que me faria ser aquela pessoa que meus pensamentos em círculos sempre me disseram que eu deveria ser pra que eu, finalmente então, pudesse ser livre. E feliz.
Não quero mais usar minha licença poética só pra falar de sentimentos quebrados, minha habilidade de enfileirar as palavras só pra falar do que nem eu mesma agüento mais ouvir porque parece um cd riscado que há quase tres anos toca a mesma música do nascer ao pôr do sol.
Não quero mais que a minha peculiaridade, a minha fragilidade e, principalmente a minha prolixidade me façam ser aquela que todo mundo vê atrás de respostas, mesmo sabendo que não muito mais fundo do que a superfície, eu não tenho nenhuma. Não quero ser exemplo, não quero ser o que ninguém quer ser, não quero ter obrigação de ser o que eu não sou ou de achar que tenho que ser alguma coisa.
Quero ser nada, pra poder ser tudo o que me der vontade.
Não quero mais trilhas sonoras pré estabelecidas e conversas repetidas. Não quero mais meus moralismos, meus sexismos, minhas confusões de onde é que eu sento, de qual vai ser a minha opinião quando eu vê-lo mudo todo o dia. Não quero mais estar na festa e passar a festa toda olhando pros lados, esperando alguém dizer alguma coisa que faça sentido, esperando a felicidade das pessoas deixar de ser forçada e virar verdadeira.
Não quero mais muitas coisas que, na verdade, nunca quis mas sempre vivi porque achava que eu precisava, que eu deveria. Não preciso, não devo, não quero.
Não quero mais magoar quem me ama, a começar por mim mesma, não quero mais impor as minhas vontades quando eu não sei se quero mais tê-las. Não quero saber se vou te amar pra sempre, se vamos andar de mãos dadas quando as nossas estiverem enrugadas, não quero mais pensar na minha vida sem você, não quero mais pensar na minha vida com você, não quero pensar em carreira, em casamento ou em filhos, não quero pensar. Vou ser breve, me dê só um momento pra respirar. Não quero saber de mais nada.

Quero silêncio.

"A bossa nova é uma punheta que se toca de pau mole"

Publicado  quarta-feira, 13 de outubro de 2010

        A afirmação que intitula este post foi feita pelo nosso velho conhecido Lobão, em um programa da MTV apresentado pela MaryMoon. Eu resolvi postar um trecho de uma outra declaração do Lobão aqui porque ela é, acredito eu, no mínimo, intrigante.
Gostaria de deixar claro que não ratifico nem repudio a opinião dele, simplesmente achei interessante expor o texto. EU SOU SIM apaixonado pela Bossa Nova, mesmo que eu tenha estudado pouco, mesmo que eu nunca tenha visto ao vivo Jobim ou Powell, aqueles tradicionais acordes de meia diminuta sempre acalmam meu coração. E EU SOU SIM, incondicionalmente apaixonado pelo Rock n' Roll, aquele mesmo, calcado no Blues e no R&B; desde aquela sutil pitada de country de Chuck Berry até o peso, a cadência e a técnica do metal contemporâneo.
Assim sendo, aí vai o texto:

"(...) E teve toda aquela campanha contra o funk…
Eu fico pensando nesses negócios de fazer palestras em universidades, fica um moralismo às avessas, dos rockandrollers contra a bunda. Mas você quer mostrar o quê? O seu cérebro? Ora, vai tomar no cú. Eu tava vendo o Ziraldo na capa de vocês, quando ele tava na época da “Bundas”, ele deu uma entrevista no Roda Viva e tava muito feliz com a revista. Aí perguntaram o que ele ouvia de novo. Aí ele falou: “Ah, Chico Buarque, Caetano, Gil…” Aí o cara falou assim: “E o Renato Russo?” O Ziraldo: “Ah, eu vi no obituário que ele morreu…” Você tá entendendo? Isso é uma merda. E o rock funciona nesse sentido. Agora, eu tenho severas críticas a fazer, porque o rock virou um lixo moralista, xiita. Quando se mistura com alguma coisa, os caras querem “rock puro”. Mas, não, o rock não foi feito pra isso. O lance do hip-hop, por exemplo. É quase como um chute no saco da intelligentsia, que quer o puro, mas o Brasil não pode ser puro, é 100% mestiço, a gente é um subúrbio do terror, a gente pega da matriz pra poder reciclar tudo, inclusive a bossa nova era assim, o samba foi assim. O choro é uma mistura de polca com umbigada. Você no século 21 não vai querer pegar tudo que está acontecendo na matriz, sendo colonizado do jeito que a gente é? E só podia ser assim. O Caetano esses dias tava na MTV e falou assim: “O Brasil tem que ser bossa nova.” Quer dizer, ele quer um retrocesso. A bossa nova é uma coisa anacrônica, absolutamente anêmica e bem débil-mental, né? “O parquinho, papauera…” Ah, vai tomar no cú, rapá. Eu tenho conhecimento de bossa nova, eu sei o que é bossa nova, eu sei construir padrões harmônicos, mas isso é anacrônico. Isso é cheio de varizes. Varizes sem sangue, ainda por cima. Parece que é uma coisa assim: um é “alta cultura”, o resto é “baixa cultura”.Isso. Mas eu acho que rock and roll is a fine art. O rock and roll está embutido em artes plásticas, você pega artes de vanguarda, tudo é rock and roll. Cinema, escultura, pintura, tudo a partir dos anos 60 é rock and roll. Se você for ver o hip-hop, ele tem rock and roll. Jorge Ben é rock and roll, mas Caetano não é. Por quê? Eu tive esse pequeno insight agora. É o lance de Dionísio e Apolo. Uma coisa é dionisíaca, é a paudurescência, yeah, GRRR, a outra é a coisa purinha, é harpa, ahhh. Por que se despreza a bossa nova? Porque, na verdade, o impulso de você criar a bossa nova não é pelo que você está sentindo, é pelo que você quer mostrar. Geralmente o cara da bossa nova quer mostrar os acordes que ele usa. Ele está preocupado com uma forma. Ele está preocupado em fazer sinuosidades vocais. Você olha pra isso e pensa: “Que ingênuo.” Você passa mal com isso. O cara parece um crente. É careta. Todo mundo gostaria de sentir uma empatia positiva por isso, mas você não sente, você fica pensando que o cara é um crente. Não adianta, é uma merda a bossa nova. Porque está no corolário das coisas apolíneas. Mas eu quero Dionísio, eu quero com êxtase, eu não quero ficar pensando sobre isso. Fazer uma coisa apolínea é só se informar sobre aquele padrão, que nem é muito complicado, diga-se de passagem, e ficar lá fazendo “paaaraaa, parararaaa”, e ficar naquela punheta estética babaca. Ah, vai tomar no cu o João Gilberto. Eu faço “Me Chama” e o cara vai cantar daquele jeito que gravou? O Caetano diz que ele é máximo, máximo é o caralho. Ele é bom, mas não pode esse cara ficar empatando a foda de gerações e gerações e dizendo que ninguém vai atingir o que ele fez. O caralho. (...) "

        Em outra entrevista concedida a Ricardo Schott do JB durante as preparações para o festival Mada (em Natal, Ago/08), o carioca Lobão aproveitou para comentar sobre a versão de sua música "Me Chama" feita por João Gilberto: "Na verdade ele assassinou a música, né? Cortou até o 'nem sempre se vê lágrimas no escuro', porque não entendeu. Tem que dessacralizar esse cara e essa coisa da bossa nova, que não passa de uma punheta que se toca de pau mole. Não tem ninguém que o João Gilberto tenha chamado mais para ir na casa dele do que eu. E eu nunca fui (...) Bossa nova é uma língua morta, assim como essas bandas de choro e samba que existem hoje, que ficam tocando naquele lugar sujo que é a Lapa. Tem que parar com essa coisa de ficar lambendo o saco de 'universotário' marxista branquelo, essa coisa de 'Loser' manos, petista, que virou maioria no Brasil. Porque o Brasil é o país da culpa católica, um país em que se valorizam as pessoas feias."
        Quando Schott perguntou a opinião de Lobão sobre a saída de Gilberto Gil do ministério, a resposta foi seca: "O Gil, cara... isso vem, para mim, antes de ele ser ministro. Ele é falso, vem com aquele discursinho de 'a rebimboca da parafuseta' e não fala coisa com coisa. E ficam as pessoas falando 'nossa, você viu como ele é culto, como fala bem?'. O Gil não fala nada, enrola todo mundo. O Caetano é que é legal. A gente já brigou muito mas ele vai lá, fala, se defende."

O amor que bateu asas e vôou...

Publicado  terça-feira, 12 de outubro de 2010

"Idealizar é sofrer. Amar é surpreender."
[Martha Medeiros]


Amores que vão e vêm...que passam, cruzam, viram, mas nunca param. Será que isso nunca acaba?
Lembro de uma música que ouvia quando criança que dizia em inglês: "Twist and turns but will this never ends?", eu cantarolava, mas não entendia exatamente do que se tratava. Hoje em dia acho que entendo melhor o que aquelas palavras diziam. Quando a gente é criança a gente vive sonhando com o príncipe encantado, com o homem de nossas vidas. Costumamos achar que não ficaremos pra "titia" em hipótese alguma, que seremos sempre bem e infinitamente amadas.
Aí a gente cresce, quebra a cara uma e outras vezes, fica amargurada e deixa de acreditar no amor, no conto de fadas, no final feliz. Ficamos indignadas por não acharmos a tampa da nossa panela, o nosso cobertor de orelha e culpamos o amor (ou a inexistência dele) por isso.
Mas será que se a gente não tentasse ver onde NÓS estamos errando as coisas não melhorariam um pouco? Será que se conseguíssemos enxergar que a felicidade está nos gestos simples do dia-a-dia e não somente nas superproduções ensaiadas nós não veríamos que já fomos amadas?
Ele não te quer mais, mas um dia ele te quis, ele te pegou daquele jeito, ele beijou sua boca de um jeito que você não consegue explicar e te fez muito especial, mesmo que por pouco tempo. Ele segurou sua mão, fez uma brincadeirinha com sua covinha nas costas. Ele já prestou atenção em você.
Não adianta ficar chorando e parar a vida toda porque uma pessoa parou de enxergar você. Não é porque um amor não deu certo que o amor é uma mentira. O problema é que estamos acostumados a buscar, desde sempre, por um amor "pra sempre", quando na verdade o "pra sempre" é a parte mais mentirosa da história toda.
Nada é pra sempre, nem amor e nem dor. Ame, ame muito, seja patético. E depois sofra, chore, fique arrasado. Amor é intenso, é único a cada nova vez...e é errante.
Que seja gritada a citação do poeta, que berre meu coração a cada nova oportunidade de bater de novo...e, principalmente, que não haja medo de começar algo que vai acabar um dia, porque o medo paralisa e amor é sim eterno, mas só enquanto dura....

A espera

Publicado  sábado, 2 de outubro de 2010

Atrás da pista tem um bar e atrás do bar tem um sofá. Estou sentada nesse sofá. Aguardo ansiosa por algo, olho as horas no celular, checo o e-mail pelo Iphone, reclamo com minha amiga “tá demorando”. Ela me pergunta se é o show, se é a menina passar com a comida. O que é? Não sei. Mas tá demorando. Em cima do bar, no teto, tem um daqueles globos que sempre tem. Olho pro globo e penso que estou uma eternidade sentada naquele sofá. Mais de vinte anos? Descanso os cotovelos nos joelhos e me arrependo, enquanto todos querem ver e ser vistos, eu fico nessa posição feia de vaso sanitário. Minha amiga vai fumar. Eu me animo “já tenho pra onde ir”. Eu não fumo, eu odeio cigarro, eu odeio atravessar a festa inteira pra chegar até lá fora, eu odeio a amizade instantânea das rodinhas de fumantes que não se conhecem, eu odeio conhecer gente que não tem nada a ver comigo, e sorrir para os papos mais furados do mundo. Mas eu já tenho pra onde ir. E vou. E ao chegar lá fora, continuo achando que está demorando. Sinto falta do sofá agora. Mas quando minha amiga acabar o cigarro, eu já terei novamente pra onde ir. E assim uma festa chata me lembra muito a vida. A eterna oscilação entre ir lá fora ver e voltar pro sofá, sempre só pra ter pra onde ir. Eu olho de novo no celular. Eu posso ir ao banheiro e isso já é um lugar para ir. Me animo. Não, não me animo. Tudo me deprime. Eu ficar chupando a barriga pra dentro pra esconder que tenho um pouquinho de pança, eu ficar me equilibrando no salto, eu ficar fazendo minha cara de “não encosta em mim”. Tudo me deprime. As pessoas falando de trabalho, as pessoas forçando falar qualquer absurdo só porque o óbvio seria falar de trabalho. E principalmente: o grupinho de moças muito altas e muito loiras que não trabalham mas estão lá porque estar nesses lugares é o trabalho delas. Tudo é tão chato mas eu fiz cabelo e maquiagem. Antes da meia noite não dá pra ir embora. Preciso me gastar um pouco pra não dormir tão antes de tudo dar errado. Eu sei, eu deveria beber. Mas pra quê? Pra achar essas pessoas legais? Pra suportar o insuportável? Sou cínica demais pra dar esse gostinho ao mundo. E eis que adentra à festa o rapaz que, não faz nem uma semana, mas foi só um moço muito bonito que durou uma semana. Mas ele também reforça meu pé inquieto batendo ritmadamente: será que demora? Não sei. Não, não demora mais. Ele não é a resposta. Ah, Marília. Você deveria saber. Eles nunca são a resposta. Nunca foram. Que é que você quer? Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? Ninguém é a resposta. Nem o sofá, nem a festa, nem ficar em casa, nem a água com gás, nem olhar com nojo para o grupo de piriguetes vips que não prestam pra nada a não ser frequentar festas para sair em revistas e angariar empresários. Finalmente já tenho o que esperar: o carro. Finalmente já tenho o que fazer: ir embora. Na verdade a única coisa que estou sempre esperando e querendo é ir embora. De todos os lugares, de todas as pessoas. Eu não estou esperando nada a não ser o tempo todo sair de onde eu estou.