Sinto muito, mas não sinto nada.

Publicado  segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Já não sei mais porque/ Em ti eu consigo encontrar/ Um caminho, um motivo, um lugar/ Pra eu poder repousar meu amor"
[los hermanos. eles sim sabem o porquê.]


...Não tem sido fácil.

Nenhuma das coisas que eu faço, por fazer, por continuar, por não poder parar de escrever uma história, mesmo que picada, para poder chegar onde é fresco e, no final do dia, você vem. No final do dia você vem de verdade.
É no trânsito sempre que você aparece pra mim. Aparece no metrô, na escada rolante, no caos dos restaurantes no horário do almoço, no meu banho quente pela manhã, na festa, no bar e na novela das oito.
Tanta gente, tanta confusão, tanta coisa. Eu deixei de sentir tanta coisa por aí à fora porque, lá fora, é feio e sujo, e juro, já deu no saco ter que me sentir um saco de lixo fazendo a caridade de recolher entulhos por ai.
Os dias passam lerdos pela necessidade que a gente tem, agora, de se arrastar, também, para o final das escolhas que vão deixar de ser um monte de vontades misturadas e acumuladas para se tornarem funcionais, pontuais e palpáveis, finalmente. A gente se esfrega forte no chão que é pra não ter que voltar pro fundo do poço nunca mais. A superfície está rasa e cheia de oxigênio esperando pelo respiro, de qualquer forma.
Mas é estranho acordar de manhã e conviver, todo santo dia, com o reflexo me contando que, aquilo que se vê, é uma casca vazia. É difícil manter uma conversa de mais de três frases com alguém que exala testosterona, quando nenhuma virilidade do mundo é capaz de vencer a batalha contra os super-poderes, as super-habilidades e o super-espaço do super-homem, não o da capa azul marinho e sunguinha vermelha bem a la babado-bee, mas sim aquele que cresceu devagar dentro de mim, durante todo esse mês.
Difícil seria explicar pra mim mesma tantas certezas abafadas pela lucidez de uma vida regrada, linear e sem emoção. Tantas vezes tentei abrir a boca pra explicar pra meio mundo o porquê de o meu mundo ser melhor agora, ainda que com essa metade de mundo entre a gente. Acabava de boca mole e garganta seca porque a felicidade não é exatamente uma coisa bem recebida por quem não vai desfrutar dela.
Os dias têm sido chatos, as noites longas, os banhos frios, o olfato nulo, a visão turva, o tato preciso... e sozinho.
As coisas passam coloridas por mim, mas não conseguem brilhar o suficiente pra ofuscar o que berra fosforescente lá no fundo. Colorido por colorido, escolho o bom e velho preto e branco que, inclusive, encaixa melhor com a melancolia. Se for pra sofrer, que sofra bonito.
Deixo que eles passem todos por mim, então. Deixo meus olhos se fecharem , meu coração estancar um pouco do sangue, minhas mãos se aquietarem onde eu possa pensar melhor em você. Deixo meu semblante de gargalhadas exageradas se acalmar num sorriso breve e lateral, tristemente esperançoso.
Sofrer a falta de você dói tanto que me anestesia da dor.

Não tem sido fácil, eu sei. Mas - sem sentir nada por te sentir tanto - eu decidi esperar por aquele dia em que, no final, você vem. De verdade.

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