Viva.

Publicado  quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ventos, direções, poeira, medos. Tudo tem a ver comigo, com todos, com ninguém. Não entendo ventos que assopram para direções diferentes, que apontam para várias direções gostosas, que levantam poeiras esquecidas pela chuva e pelos carros que vão passando; mas não entendo o medo que sinto de tudo isso, de todo esse tempo correndo, de tudo mudando sem que eu tenha real controle de tudo. Ventos são quentes, ventos são frios, não se sabe quem é bom ou quem é ruim, só se sabe que ventos sempre estarão aqui, independente do que e para quê, sempre estará aqui. Direções são infinitas, um mundo cheio de caminhos, uma perdição em páginas amarelas incontáveis e dúbias. Um GPS impreciso perdido numa lua ainda não descoberta. Poeira é tudo que não precisamos mais e com o tempo vai se esquecendo: pequenos amores, pequenos amigos, pequenos sorrisos, pequenos abraços, pequenas pessoas, pequenos animais… Mas até grandes amores, grandes amigos, grandes sorrisos, grandes abraços, grandes pessoas, grandes animais podem se tornar poeira, mesclar-se a esfera do esquecimento, da saudade, da vaidade, da raiva, da tristeza, da morte, do fim. Poeiras são coisas que, por mais que queiramos sólidas e indestrutíveis, o tempo faz dela pequenas marionetes, ferramentas para uma felicidade momentânea; é como criar um boi, alimentá-lo, dá-lo carinho para no fim, apenas matá-lo e comê-lo. O tempo brinca de vida, brinca de carrasco. Sempre tive muitas rivalidades com o relógio, quem conhece meus atrasos não-esporádicos sabe disso, mas nunca estive tão atordoada com essa velocidade. O corpo é apenas passagem, um caminho, um sapato usado pela vida, algo que quando estiver velho demais, seremos jogados no solo, assim como todo lixo. Ventos sopram quente, ventos sopram frio. Direções apontam norte, leste, oeste e sul. Poeira é aquilo que você quer, deseja ou não quer e não deseja, mas não pode impedir, que vá embora de sua vida. Medo? Medo é um perigo, um receio, um preceito, uma dádiva, um sentimento, uma música. Nada se ganha prostituindo-se do medo, nada se ganha se vendendo ao medo. Só não queria ter medo de deixar o vento levar a poeira. Só não queria que o vento mudasse tudo tão rápido. Quanto a direção estou satisfeita, meu caminho é uno, não devo mais me desviar, a vida de indecisões é passado. A maior certeza é aquela que legitima sua vontade. Porque vontade sem certeza é algo aceitável, digno, desejável; agora certeza sem vontade? Definitivamente você não tem certeza de nada. Porque aprendi que sentir saudade não diminui a distância, ou a vontade, ou a certeza ou a intensidade. Pode diminuir a esperança, a expectativa, a confiança, mas saudade é um muro, não se sabe se é bom ou se é ruim. Dói, realmente dói. Mas será que tudo que dói realmente é ruim? Acredito que existem certas dores gostosas, sério, sem ser amante de sadismo e outras correntes semelhantes. Nem todo mal é pra sempre, inútil ou não didático. O que sou hoje é uma soma de permutas, de ‘n’ divisões e várias subtrações arranjadas elevadas a raízes complexas, transformadas em números reais e algumas vezes aos irracionais; Sou uma hipérbole do passado, um pleonasmo do presente, uma metáfora pensando na elipse do futuro. A escola é sempre um caminho chato, mas até hoje nunca deixei de ser aluna: NUNCA. Perder tempo, sem dúvida, é morrer. É morrer porque não aproveitou-se o tempo vivendo, perdeu algo que nunca mais poderá ter. Algumas coisas só teremos uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. Uma vez. A vida não é um teclado, onde podemos jogar para amanhã o enter, contar com o insert e abraçar o delete quando achar conveniente. Pense antes de morrer matando tempo, mas não pense antes de viver aproveitando seu tempo. Agora me despeço, perder tempo digitando é, sem dúvida, um alívio. Você lê-lo, bem, pode ser uma perda de tempo. Tudo é relativo. Vidas foram feitas para se viver. Viva como viveria se não tivesse mais tempo para perder. Viva. Apenas viva.

1 comentários:

Okuda disse...

Não precisava humilhar meu post também :/

Juro, eu amo seus textos. É muito Cecília. Tem um algo a mais, um 'quê' de etéreo... uma sinestesia mágica!

Beijos~