Resiliência

Publicado  sexta-feira, 6 de maio de 2011

Em "Fundamentos da Ciência e Engenharia dos Materiais" (CALLISTER, 1991) ou simplesmente 'Callister' como é mais vulgarmente conhecido entre os discentes (e docentes) da maioria dos cursos de engenharia Brasil afora, podemos encontrar a seguinte definição para o termo 'Resiliência': "Resiliência é a capacidade de um material absorver energia (impacto) quando ele é deformado elasticamente e então, no descarregamento, ter recuperada esta energia. A propriedade associada é o módulo de resiliência, Ur , que é a energia de deformação por unidade de volume requerida para tensionar o material a partir do estado não-carregado até o ponto de escoamento."
Mas vocês devem estar se perguntando: e daí?
Bem, feliz e animado com a vida (?!) como qualquer aluno do terceiro ano de engenharia, eu assistia despretensiosamente a uma pacata e, arrisco-me a dizer, sonolenta aula de Teoria das Organizações. Slide vai, slide vem; bocejo vai, bocejo vem... 'bla bla bla resiliência bla bla bla'. 'Resiliência? É de comer? Acho que eu já ouvi isso antes... Onde mesmo? Ah, é! Na aula de materiais do terceiro semestre.'
Voltei pra casa depois de um longo, longo, loooongo dia de estudos, morto de cansaço. E como todo mundo já deve ter percebido, geralmente uma parte desse cansaço inerente à vida acadêmica é, obviamente, composto pelo esgotamento e saturação da sua paciência e disposição; e a outra parte é feita do pré-cansaço, ou seja, aquele sofrimentozinho que você sente só de pensar em todo o resto das coisas que você AINDA tem que fazer.
Mas, voltando ao assunto, cheguei em casa e... aquela pulga atrás da orelha. 'Cadê o Callister? Merda, vendi pro bixo. Ok, vai no Google mesmo.' Pesquisei 'Resiliência' no Google e, curiosamente, o primeiro resultado da busca era uma definição da Wikipédia. Abri a página e me surpreendi: descobri que, convenientemente, a psicologia havia tomado emprestado o termo para definir "a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse, etc. - sem entrar em surto psicológico". Brilhante! Como eu pude ignorar este conceito por tanto tempo? 'Resiliência...' uma avalanche de pensamentos me fez imóvel por alguns instantes (como quando você mergulha em si mesmo, não se mexe e nem se percebe estátua viva, e quando se dá conta, a visão já está embaçada...).
Então concluí que a resiliência é o único atributo importante na vida de qualquer pessoa.
Não importa de que raça você seja, qual o seu emprego, sua idade.
Não importa se você é religioso, se você não gosta de picles, se você é o presidente!
E ainda, não importa que você não se importa, porque isso não fará a resiliência menos importante.
O jeito como você lida com as adversidades; a maneira como você agüenta o tranco e absorve aquilo para depois tentar transformar em algo positivo (ou negativo); isso é o que determina tudo.
Portanto a palavra do dia é: resiliência.

O desencarne

Publicado  domingo, 1 de maio de 2011

"O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, deseja morrer." (Nietzsche)

"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia." (Camus)

Mas por que todos buscam tão desesperadamente justificar sua vida e seus objetivos?
A todo o momento e em qualquer lugar as pessoas, incansáveis, se lançam na jornada incessante cujo único e infrutuoso objetivo é provar sua existência.
A grande parte de tudo o que há para ser visto ou vivido serve exclusivamente para desviar o foco de nossa atenção da questão central e única importante: a morte.
O porquê de todos os porquês; o fim; o assunto incômodo e recorrente de qual todos fogem consciente ou inconscientemente.
Mas como explicar o inexplicável?
Como traduzir em palavras o que só pode ser sentido?
É como começar uma explanação sabendo de antemão ser incompreendido.
As pessoas não temem a morte porque elas não são capazes de pensar seriamente a respeito dela.
Se o fizessem, não conseguiriam seguir normalmente com suas vidas.
Quando um indivíduo considera verdadeiramente a morte e suas implicações, um medo avassalador, por falta de outro termo mais apropriado, toma conta dele.
Não é um medo comum, como o medo de se machucar ou medo de perder algo que se ama.
É um medo absoluto e total, tão profundo que coloca tudo em perspectiva.
Inicialmente, esse medo fornece ao indivíduo um sentido aguçado das coisas, e em seguida proporciona um nível superior e muito elevado de consciência.
Uma espécie de iluminação.
A maioria das pessoas nasce, vive e morre sem nunca ter vivenciado essa clareza profunda de realidade, essa 'lucidez perigosa' nas palavras de Clarice.
É como aquela sensação estranha ao sair do cinema: num momento estamos dentro de uma realidade e de repente, ao abrir das portas, voltamos ao 'normal'.
O problema é que é impossível vivenciar essa lucidez, essa sensação de estar infinitamente maior que si mesmo, e simultaneamente estar preso às tarefas do cotidiano, já que são antagônicos.
As coisas mundanas estão a toda hora nos alienando, cegando nossa visão, puxando-nos para baixo.
É conveniente não pensar sobre isso, e a rotina engole facilmente as reflexões e mascara as conclusões.
A verdade insuportável e inexorável é que nada existe realmente porque tudo algum dia deixará de existir.
E deixar de existir, à parte a religião e as crenças, é aterrorizante, como poucas ou nenhuma outra coisa é.
Sumir, desaparecer.
Você se lembra como tudo era antes de você nascer?
Pois as coisas voltarão a ser daquela maneira.
Reordene por importância os elementos da sua vida agora.
Percebe a insignificância?
Não é frustrante? Não é triste? Não é desesperador?
Essa noção de certa forma consagra os suicidas como corajosos, porque ao invés de continuarem protelando a mentira do efêmero, eles adiantam o inevitável: vão à busca da verdade até as últimas conseqüências.
Vamos, apegue-se a algo. Maomé, Osho, Cristo, escolha um.
Vamos, feche os olhos, vai passar.
Do pó ao pó: nunca fez nem fará tanto sentido como agora.