Por um final menos medíocre

Publicado  segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Algumas vezes era muito fácil diferenciar quem ia sair ferrado de uma história logo de cara, a partir do primeiro segundo depois que ela tinha começado. Mas o "algumas vezes" está aí justamente para delimitar a constatação de que não, nem sempre existem mocinhos, bandidos e princesas presas no topo do castelo. O sonho de Rapunzel passou por todas as meninas que eu conheci nessa vida, mas ainda está pra nascer a bem amada que recebeu o homem perfeito à Mr. Big do Sex and the City na sua varanda em qualquer manhã dessas.
E era no passado porque a visão turva resultante de tantos olhares míopes numa multidão de desinteressados desinteressantes já não conseguia ver brilho em muita coisa simples que esbarrava aqui e ali. E ela era sempre ela no meio deles, mas eles nunca eram os mesmos diante dela. As histórias se repetiam e o amargo do erro fazia a euforia do acerto padecer mais cedo. O mito do cafajeste não sai da cabeça dela. E pra ela nunca está bom do jeito que está.
Acabava se cobrando demais por não saber ao certo o que ela tinha que arrancar das pessoas, no meio da catástrofe dentro dela. Não era coração - porque esse ela já não entendia muito bem do que se tratava - , era cérebro. Se sentia burra a cada novo começo que se tornava mais um fim no final das coisas. O final das coisas amedrontava, mas já não era como antes. Nada era como antes e ele ainda enaltecia, de certa forma, a eterna posição de desespero, que ela queria manter, para assustar quem ousasse se aproximar demais da crosta fria ao redor dela.
Não que ela quisesse magoar demais para sofrer de menos, não que fosse mais prático gritar a todos os pulmões que não quer mais depois que já teve, não que para ela fossem flores, ou folhas, ou bonito dizer o que não se quer ouvir, o que não se quer dizer, o que ninguém nunca quer falar e nem saber. Ela está feia por tentar tanto e não perceber que o que falta é ter força suficiente para ir até o fim de verdade e viver, indescritivelmente, as coisas que ela cria na cabeça e saem todas pela metade, pela pressa de ser tantas, em uma só.
Um dia, em algum dos passados que já foram contados aqui, ali e acolá, ela resolveu que seria uma mulher descritiva. Contou cada peculiaridade das coisas estranhas que sentia, que fazia sentir. Ela chorou as mágoas em público e abriu caminho para muitas outras delas entrarem, numa metástase confusa de quem sofre por opção de não ter a opção de ver o espetáculo parar.
Alguns se vão por vontade própria. Outros, são convidados a se retirar. E ela passa a vida descrevendo as coisas que tantos sentem através dela, se tornando ela mesma, a mais frígida das mulheres perante seus próprios sentimentos.

Prelúdio à dissidência

Publicado  sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

E mesmo depois de tanto tempo, tocar naquele buraco escuro e cheio de sofrimento era muito difícil.
Há muito ele havia encontrado seu próprio jeito de fechar os olhos e engolir todos os pesares.
Um processo de despejar as decepções em algum ponto abissal da alma que inexoravelmente havia tornado seu coração sáxeo.
Aquilo de certa forma o satisfazia: preencher o vazio, ainda que com mágoas.
A disparidade entre seus imperativos categóricos e a pungente realidade não lhe deixava escolha.
Ele nunca quis ser triste.
E para os dotados daquele velho chauvinismo ignorante que argumenta paralógica e etnocentricamente que os tristes são somente os fracos de opinião, com problemas de auto-afirmação ou pessimistas sem auto-estima... que fossem para o inferno!
As pessoas não escolhem voluntariamente a tristeza.
Mas ela toma conta, domina, introjeta, assimila, seduz.
Sim, seduz.
Existe uma beleza oculta na tristeza.
E embora haja íntima ligação dela com a solidão, aqueles que são tristes, por mais que não saibam ou não sintam, nunca estão sozinhos.
A tristeza é uma língua universal.
Sem distinções.
É claro, ele ainda não entendia.
Então, como nunca havia acontecido nem nunca tornaria a acontecer, ela surgiu.
Sublime, inteira, irretocável.
Com um sorriso radiante, iluminava não só os lugares mas também as pessoas de uma maneira suave e inebriante.
Apesar de bonita, não era vaidosa, nem arrogante.
Ele irremediavelmente se apaixonou.
Contudo, o amor é um privilégio de maduros, e aquele desejo inconfesso de tê-la ao seu lado trouxe consigo um exame de consciência.
Ele percebeu logo que, mergulhado em sua dor atroz, ela nunca seria capaz de amá-lo.
Ela nunca poderia sentir por ele nada mais do que pena.
E foi assim que começou a história da batalha contra seu maior inimigo: ele mesmo.









p.s.: Marília, eeeuu jáááá saaabiiiiaaaa haha! PARABÉÉÉÉÉÉNS :D