Chega de fabulações romanescas

Publicado  terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu odeio as pessoas...
Não as quero por perto.
Elas nada me acrescentam e eu a elas tampouco.
Pois não há o que ser acrescentado.
Não há o que ser transformado.
Não há o que ser aprendido.
Por muito tempo evitei tal sentimento tão destrutivo.
Mas paulatinamente ele me dominou.
A essência de cada indivíduo, para os outros e muitas vezes para ele próprio, é incognoscível, e, portanto, irrelevante.
Em vão as pessoas tentam se entender. Ninguém pode verdadeiramente entender ninguém.
Nunca se entenderão por completo, e, caso se entendam, o que terão entendido afinal?
Alvíssaras! A compreensão é uma ilusão estéril.
Essa noção estende o conceito de solidão consideravelmente.
Assustadoramente.
E estou convicto de que essa é a grande razão para a crença em um ser superior.
A idéia de que existe alguém que nos conhece e entende tão bem, alguém tão acostumado à nossa nudez de corpo e alma quantos nós mesmos é, de certa forma, reconfortante.
As pessoas têm medo de abandonar as premissas, de se entregar à loucura.
Não são mais fortes do que os códigos misteriosos gravados no coração do homem.
E não percebem que desse modo estão abandonando a si próprios...
Opinião incipiente? Sim.
Opinião insipiente? Talvez.
Mas chega de corroborar críticas fáceis.
Chega de normalidade, de senso comum, de idéias perfeitamente concatenadas, de 'coerência mórbida'.
Chega de sílabas moduladas mecânica e artificialmente:
Eu odeio as pessoas!

!

Publicado  domingo, 19 de setembro de 2010

A gente só faz 18 uma vez na vida.
Todos me disseram o mesmo:
"Fazer 18 anos não muda nada na sua vida."
É, não mudou muita coisa. Agora posso comprar álcool, cigarro, entrar na balada... Coisas tão, hum, indiferentes. Eu podia fazer tudo isso antes também (mesmo que pra isso eu tivesse de fazer um RG no Photoshop).
O engraçado é que eu continuo cheia de responsabilidades. Continuo tendo de acordar às 7h todo dia, pegar o mesmo trânsito, estudar, passar em casa só para almoçar e ir trabalhar... E no meu trabalho então? Tantas responsabilidades, tantas coisas pendentes, tanta gente me cobrando... Meu chefe pedindo certas coisas, minha chefe me dando tarefas... Difícil.
E aí chega o sábado e estou tão cansada que acabo faltando no treino de jiu-jitsu e aí sou cobrada pelo professor: "Por que você faltou? Quero ver você aqui."
E o pior é que minha vida tem sido assim há tanto tempo.
Eu sempre estive a frente do meu tempo.
Comecei a namorar com 13 anos, trabalhar aos 16 anos... Comecei a faculdade aos 17 anos. E, ah, sim, eu que pago a minha faculdade, eu que pago tudo o que eu consumo. Sai tudo do meu bolso. Aí você me pergunta se sobra alguma coisa por mês e, meu caro, não sobra, às vezes falta e eu tenho de me virar. Sem contar que no ano passado passei por uma cirurgia de grande porte... Ah, hoje eu carrego uma cicatriz. Graças a essa cicatriz lembro todos os dias de como foi o meu ano de 2009... Talvez o pior da minha vida. E inacreditavelmente encarei isso de forma tranquila. Após minha operação sabe o que eu pensava? Que aquilo marcava uma nova época da minha vida.
Incrível como eu sou racional, sou madura... Sou mulher. E isso não mudou porque eu fiz 18 anos, isso sempre foi assim. Cresci rápido demais, sou independente demais.
Eu queria ser imatura, ser infantil. Queria viver num mundo ilusório. Juro.
Quando eu era inocente, era tudo muito mais simples.
Admito que estou feliz de ter 18 anos, mas eu só queria que as coisas viessem um pouco devagar. É muita pressão e eu vou continuar sendo a Hellen de sempre, encarando os problemas, fingindo estar bem mesmo desmoronando e o melhor de tudo... Vou ser feliz desse mesmo jeitinho.
A única coisa que falta para marcar isso (porque sim, eu quero marcar essa época louca da minha vida) é a minha tatuagem de "!". Pois é, existe símbolo melhor para marcar isso do que uma exclamação? O que falta para que isso seja feito? Tempo e dinheiro.
Mas, vamos embora porque o tempo não para e logo, logo a segunda-feira vem aí!

Nossos

Publicado  segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A cama deles ali, e ele deitado como quem não quer nada, como quem nada pensa, sereno, meio de lado, peito aberto pra lua e sonhos encaminhados pra alguma outra pessoa bem mais leve do que ela conseguia ser. Ele ali, deitado na cama deles, abraçado com seus travesseiros, olhos entre abertos e poucas preocupações.
Do outro lado estava ela. Rosto virado pra parede, ombros tensos, olhos marejados por não saber mais se tudo aquilo que ela tem mania de chamar pelo possessivo de dois, realmente ainda lhe pertencia. Ficava pensando se era assim mesmo, depois de muitos anos, que os casais se separavam naturalmente. Sem brigas, sem escândalos, sem outras pessoas e sem problemas fáceis de estipular um motivo, um limite, um porquê. A cama perfeita, o lençol esticadinho, ele tinha o espaço certo de se mexer com folga e ela já tinha se acostumado a dormir toda encolhida na vontade de suprir o abraço, a conchinha ou o chamego que há tanto tempo não vinham.
Em poucos segundos ele adormecia e seu sono, junto com seus sonhos, iam para sempre mais longe, alavancados por cada um dos suspiros longos que ele suspirava ao dormir. Ela, muitos e muitos minutos depois, permanecia acordada, remoendo na sua cabeça todas as coisas que ela pudesse ter feito errado, matutando a noite toda se a culpa era dela.
E os dias eram tão ocupados, ela nos compromissos dela, ele nos afazeres dele, que ficava ainda mais difícil de entender o quê ainda segurava os dois juntos todas as noites, ali naquela mesma cama tão quieta e tão barulhenta. Se ela conseguisse emudecer seus pensamentos por um segundo, igual faz o controle da TV, seria realmente o quarto mais pacífico do mundo, nenhum barulho, nenhuma voz, nenhum sussurro, nenhum gemido, nenhuma jura de amor, nenhuma briga, nenhum nada. Sua cabeça a mil por hora, barulhenta e seu quarto calmo, cheio de nada.
Levantou de madrugada num impulso de gato, tão milimetricamente calculado que não esbarrou em nada, nem no silêncio. Vestia regatas, calcinha e meias. Vestiu calça jeans, casaco e botas. E foi embora.
Na manhã seguinte, depois de ter andado por horas sem saber exatamente pra onde estava indo, começou a sentir o ar entrando em seus pulmões, a cabeça ficando mais leve, sem tantas idéias de culpa que por tanto tempo ela tinha acreditado que devessem ser dela. Na manhã seguinte, ele acordou com frio. Olhou pro lado e sua cama de lençol perfeitamente esticado estava fria. Olhou dentro do armário e percebeu que todas as coisas dela ficaram lá ,não porque ela pretendia voltar, mas sim pra mostrar pra ele que não são as roupas, os livros ou os corpos de alguém que fazem aquela pessoa presente. Ela já não estava lá há tanto tempo.
Andou pela casa por vinte minutos. De um lado ao outro, meio atordoado. Sua cabeça começou a maquinar tantos pensamentos confusos, começaram a surgir, então, as dúvidas, as indagações, as sensações de culpa. Percebeu que estava sem ar.
Duas horas no pronto socorro depois, voltou pra casa e decidiu que não mudaria nada de lugar, porque embora ela tivesse ido embora na madrugada, como gato, sua cabeça poderia esfriar e ela voltaria, ela tinha que voltar. Mas o que ele esqueceu de pensar é que quem a mandou embora foi ele mesmo. Sua cabeça barulhenta não a deixava mais trabalhar, pensar, sorrir ou dormir. E agora, andando sozinha o vento batia em seus cabelos e sua alma estava quieta. Ela não tinha medo do frio ou da falta de abraço porque percebeu que quando se está sozinha, se algum abraço vier vai ser surpresa boa. Ela gostou da idéia de não ir dormir ao lado de certezas ruins todas as noites.
E o apartamento deles continuava sendo deles tanto no contrato, quanto na decoração e também dentro de cada armário e caixinha, onde ela deixou tudo aquilo que um dia foi dela mas que ela percebeu não precisar mais; percebeu que era nada mais que puro apego. O apartamento, a cama, os lençóis e os travesseiros deles, nossos, como sugere o pronome possessivo de dois e ele esperando que um dia ela voltasse.
O que ele não entendeu, no final, é que pra ser nós há de se ser um, dois em um, e o egoísmo dele fez com que ela percebesse que valia mais a pena ser feliz sendo só. A prisão que ele vive hoje em dia foi responsável pela libertação que ela vive agora.
E infelizmente, depois de tantos anos se sentindo culpada por tudo o que ela não fez, nesse exato momento, culpa era a última coisa que ela sentia. Ele está preso, mas ela está viva. Sem culpa.

1.8

Publicado  domingo, 12 de setembro de 2010

"Se não guardamos a data de aniversário de quem nos é importante na memória do coração, não vale a pena escrevê-la na agenda."

Parabéns, Hellen.

Diário da anorexia intelectual, cap.1

Publicado  sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Passava das três e ele não conseguia pregar os olhos.
E dormir, como já havia percebido, era a única coisa que o salvava dos seus próprios pensamentos.
Esvaziar a mente muitas vezes é quase tão difícil quanto esvaziar o coração.
Mesmo para alguém tão familiarizado com o vazio.
"Viver é difícil" - pensou - "e os tacanhos que ignominiosamente afirmam que não é, não vivem de verdade".
As idéias lhe fugiam com a mesma frequência que lhe surgiam.
Esboçava pensamentos vagos, etéreos, inconclusos, reticentes.
"Quando foi que eu me tornei tão dependente da aquiescência alheia?" - murmurou.
"Há duas décadas você é dependente da aquiescência alheia, Wagner. Sua vida não tem nada de insólito; seu saber é fruto da cultura de massa, dos factóides; sua capacidade cognitiva é deliberadamente limitada. Seus problemas de autoafirmação são cômicos. Mergulhe no opróbrio e vá dormir, é o melhor e mais conveniente a se fazer." - uma voz no fundo da sua cabeça lhe respondeu.
Levantou-se e bebeu um copo d'água na cozinha.
Sentou à beira da cama, consternado.
Naquela noite percebeu que, embora desejasse, não seria capaz de viver à míngua de introspecções filosóficas.
Nos dias seguintes, com um fervor quase religioso, evitou pensar em qualquer coisa, convencido que a alienação plena não existe.
E acaso existirão os alienados?

A vida que quero ter...

Publicado  quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Há quase duas semanas tenho pensando nesse título, nesse texto e nos meus desejos. Afinal, a vida que quero ter não pode ser decidida em minutos ou dias poucos ou até mesmo sob circunstâncias que modifiquem minha real vontade. A vida que quero ter é azul, não porque azul é a cor da preguiça, mas porque azul me dá vontade de sorrir, de relaxar e de fazer com que os outros próximos a mim sintam a mesma sensação de relaxado sorriso. A vida que quero ter tem som alto, onde cantar é um verbo alto e sem vergonha, dançar é uma locução indispensável a qualquer português musical e que todo cantor venha a se encantar ao cantar qualquer canção. A vida que quero ter é cheia de amigos eternos de um dia e lotada de amigos com prazo de validade para a vida toda e sempre, sempre ter um bom sonho a se buscar. A vida que quero ter é cheia de livros, de artigos, de estudo, conhecimento, aprendizados, provas, testes, resultados, aprovações. A vida que quero ter tem sabor de sede coca-cola, tem gosto de chiclete big-big e hálito de halls de melancia. A vida que quero ter tem cachorros grandes, pequenos e dos que latem, gatos peludos, de bigodes e dos que gostam de passear pela noite. A vida que quero ter tem John Mayer para os dias tristes, Cássia Eller para os dias de saudade e todas minhas outras bandas para meus ouvidos e corpo poderem diversificar. A vida que quero ter é repleta de praia e recheada de São Paulo. A vida que quero ter cabe política, cultura, espetáculos, teatro e cinema. A vida que quero ter é disciplinada, é organizada e pautada em uma lista de itens a serem cumpridos, afinal, o segredo da organização é não bagunçar o que está arrumado. A vida que quero ter é cheia de comida boa, de frutas maduras e de chocolates gordurosos. A vida que quero ter é cheia de paixões, paixões por meus amigos, por minhas coisas, por seus sorrisos e por sua felicidade. A vida que quero ter é cheia de família, gigante de mãe, esperta de pai e gostoso como irmão mais novo. A vida que quero ter é cheia de mistério, de curiosidades e experimentações. A vida que quero ter é de amor, mas que eu possa deixar no coração de cada nova paixão uma lembrança de carinho e uma vontade. A vida que quero ter, afinal, é exatamente a vida que agora tenho; não sou a mulher mais feliz do mundo, não vou realizar alguns sonhos e tenho que me readequar com novos e futuros novos planos: paciência! Nem tudo sai como esperamos e nem todos ficam do nosso lado para sempre. A pessoa que mais importa hoje é aquela que vejo no espelho, a pessoa mais interessante e a pessoa do qual mais devo dar, agora, atenção. O segredo da felicidade está todo dia conosco, todo dia em nossas mãos e a nosso alcance, não é amar e ser correspondido, ou jogar e ganhar ou estudar e passar: não; isso é apenas mérito do que você é, do que você fez e do seu esforço. Felicidade é estar em paz com a paz com que você mesmo se faz, é poder acordar com seus pensamentos e sorrir com eles, é se olhar no espelho e esquecer as espinhas e lembrar que existe alguém foda pra caralho sendo refletida, que a somatória da física, óptica e refração me deixam enxergar a pessoa excelente que nós somos e SEMPRE poderemos ser. Dificuldades, problemas e dores de cabeça? Inevitáveis! Mas o que pode ser tão ruim que me faça desistir de mim, que me faça me querer menos, me desejar sem vontade? Se eu pudesse ser duas, seria duas exatamente iguais a mim, não por ego ou por auto-adoração ou egocentrismo, que seja, mas porque me sinto bem com o que sou, com a pessoa que agora sou e com a mulher que pretendo e lutarei para ser. Estou entrando na fase adulta desde meus 14 anos, segundo minha mãe, mas nunca nesses meus quase 21 anos me enxerguei menos filha, ou mais mãe e até mesmo menos criança. Não por minhas condutas ou gosto por desenho – dane-se, eu os adoro -, mas por ainda sempre precisar de um adulto [pai e mãe] por perto. Ser gente grande é tão complicado. Todos cobram, todos pedem e raros são aqueles que te dão. E eu tenho a péssima mania de me cobrar mais que todos, só para tentar, mesmo que inutilmente, mostrar que sou melhor do que podem ou do que eu mesma posso esperar. A ilusão é doce, a visão amarga. Eu quero mais é me provar, meu auto-torturar e me provar que posso ser tão boa quanto eu precisar ser. Não é sadismo, não me interprete mal, mas é apenas vontade de ser capaz do que quiser ser capaz. A vida que quero ter é feliz, é sofrida e mesmo assim é FELIZ.

Ela foi apenas mais um luxo para a sua coleção de futilidades.

Publicado  quarta-feira, 8 de setembro de 2010

E ela ria, uma risada gostosa e livre. De repente a vida ficou clara, ela deixou de ser vitima das circunstâncias e começou a desejar a liberdade.

Ela deixou de ser mais um bibelô para enfeitar a estante cheia de troféus que ele tinha, não seria mas a peça que faltava para a sua coleção de futilidades. Deixaria de ser fútil, e não teria medo de dizer em quantos pequenos pedaços seu coração foi quebrado, mas que o último pedacinho estava sendo colado, e ela falava tchau.

Abandonou o circo, desceu do picadeiro e olhou para trás e disse brincando “ Se você tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades...”

Bastou para todos entenderem que a festa tinha acabado.

Ela se foi, mas continuava cheia de vida, apesar de tanto tempo na estante, sua vibração continuava ali, viva e pulsando dentro dela, pronta para vir a tona. No final tudo sempre dá certo.

Eis que então ela entendeu, que felicidade não chega, caminha junto, ao lado. Basta apenas deixar que ela entre dentro de você.

Ela foi embora, mas não deixou nada para trás, pois leva junto do coração, com todos aqueles pedaços colados as lembranças de todos os momentos que o fez rir e se entregar. Pois sua felicidade era ver a entrega dele, era tirar aquela mascará fria de pierrô abandonado. A felicidade dela era ver o êxtase na cara dele, a satisfação e a alegria de poder ser ele mesmo por alguns segundos. Então ela foi embora justamente para não deixar morrer cada pedacinho daquela história.

A platéia ficou triste, não entendeu o final sem ofamoso "e foram felizes para sempre". Nem todas as histórias de amor são assim. Muitas terminam pela metade outras em um picadeiro de brincadeiras tolas e algumas no silêncio de gestos vazios.

Ela sabia pelas vezes que estavam satisfeitos um com o outro, o silêncio reinava, aquilo não era mais amor, era obsessão, falta de coragem de encarar que havia um momento em que tudo terminava e as pessoas se deixavam e o momento deles havia chegado!

Ela disse tchau ele disse adeus. Ambos viraram a cara, seguiram caminhos diferentes. Ela torce para ele aprender a aceitar as pessoas com seus defeitos, ele torce para ela mudar seu jeito eloqüente. Ambos sabem o quanto foi intenso enquanto durou.

Mas também aprenderam que um dia o amor acaba, no silêncio vazio de um quarto ele diz adeus, no abraço apertado que some ele já se foi! No beijo frio de madrugada ele infelizmente deixou apenas um grande carinho.Ela percebeu bem cedo talvez, que antes carinho por ter acontecido do que a tristeza de continuar tentando se chegar a lugar algum!

Ora ou outra um vazio encontra o outro...

Publicado  terça-feira, 7 de setembro de 2010

E essa sensação é tão estranha, que tudo fica estranho e o vazio toma conta como se fosse uma noite gelada de julho, nas calçadas de volta pra casa, com as sandálias nas mãos e o coração em frangalhos, por mais uma noite sem um cobertor para aquecer o frio que ando sentindo neste calor tão intenso do quase verão...
Nada faz sentido, porque o sentido todo está em sentir e quando não sentimos ficamos sem saber ao certo o porquê do silêncio que nós mesmos pronunciamos...
É o silêncio dele que não foi, que mistura com o meu que não quis, é a vida dele que mistura com a minha, com a saudade nossa e do que fomos um dia.
É o palhaço que usa a maquiagem para esconder a dor, são as fotografias que registram o sorriso de paz, é a paz que se mistura ao fim do dia, o dia que custou a passar porque estamos assim, sem ninguém para se querer mais.
Há quanto tempo ando sozinha, há tanto tempo que não quero ninguém, minha mãe dizia que a gente acostuma com a solidão, acostuma a ser sozinho e aprende a se bastar.
Mas ela se esqueceu de contar que quando a gente sabe o que é um carinhozinho, aquela vontadezinha de abraçar o nosso, nunca mais vamos gostar de estar sozinho por muito tempo.
Porque o tempo voa e mostra dia sim e dia não que amanhã pode ser inverno e vai sobrar cama pra tanta solidão.
Então, me perco nas palavras sem sentidos, no vazio gelado que está meu coração. Meio estranho, sem graça e sem jeito ele me avisa todos os dias que já ta cansando de tanta falta de consideração.
Briga em silêncio, grita em gestos tentando mostrar que enquanto não me abrir o amor vai estar do lado de fora, esperando quem sabe um dia para entrar e preencher o vazio!
Fico entre meus livros inacabados e meus rascunhos rabiscados na cabeceira da cama querendo escrever a paz que sinto e sentindo a tremenda falta que o amor me faz, uma história meio sem rumo, uma bagunça sem sentido um sonho vazio...
Acabo vendo em tudo um começo, uma história cheia de sentindo, só preciso de um lápis para desenhar os personagens.
Personagens, esses que fazem parte diariamente da minha história, dos momentos que vivo dos instantes que crio.
E o coração continua vazio, estranho, intenso..
Como ter um coração intenso e vazio? Ah espaço demais para a intensidade que gostaria de estar sentindo....
E eu que tanta vezes pedi em silêncio, em um passado não muito distante que o amor me deixasse em paz...
É, e não é que ele deixou, com tanta paz que silencia a rotina chata e sem graça que ando levando...
Ando por ai registrando momentos, finais de tarde com a esperança de encontrar por ai alguém perdido como eu...Nas livrarias que entro, nas ruas que ando, nos bares que freqüento, mas nada mais faz com que eu entenda onde foi que encontrei esse vazio tão grande e fiz dele meu parceiro diário...
To querendo deixá-lo para trás, só falta coragem, só falta coragem!!!!
Enquanto isso, ando por ai registrando o momento que estou tão vazia e consigo preencher com alguma coisa que faça valer a pena estar viva...
Eis o sol, que brilha todos os dias e quando vai embora deixa para trás rastros de que vai voltar...
Enquanto isso eu espero, nesses caminhos loucos que a vida faz, ora ou outra esbarrar com alguém mais vazio do que eu, daí a gente junta todos os vazios e fica tudo preenchido de tanto vazio,mas daí já não vai ser o vazio só meu, vai ter alguém pra dividir comigo!! E assim vamos..na espera de que algo aconteça...